sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A disposição à neurose obsessiva:

Deixo abaixo mais algumas considerações minhas sobre o que é a neurose obsessiva. Afinal essa é a estrutura clinica que mais o meu desejo atravessa, e meus estudos especificos sempre foram no âmbito da neurose obsessiva, essa estrutura por muito renegados frente aos estudo da histeria e suas multiplas cores e manifestações. A neurose obsessiva ao contrario da histeria é  pouco estudada e trabalhada devido um mal-estar que essa provoca em muitos analistas. Esse mal-estar se dá muitas vezes por o neurótico obsessivo aparentar-se sem nenhuma singularidade, sendo assim sem cores, opaco, ele é um anônimo, sempre se escondendo e irrigado de pulsão de morte.



“Eu não sabia seque que cidade era
aquela.[…]
E logo eu também estava
perdido.
Caminhei a esmo, era a
manhã de uma quarta-feira e eu podia
ver o oceano ao sul.[…]
A merda estava preste a escorrer
para fora de mim.”
(Charles Bukowski)

Um tema amplamente discutido por Freud (1913/2006) é a questão da escolha da neurose, os motivos que levam uma pessoa adoecer de uma psiconeurose e não de outra.  Colocando dois fatores os constitucionais e os acidentais. A fonte para esse disposição é buscada nas funções psíquicas, em especial a função sexual que passa por um longo e complexo desenvolvimento, contudo esse pode não transcorrer de modo sereno, gerando diversos conflitos e tensões, onde uma função pode se apegar a um estádio de desenvolvimento anterior o que denominamos como ponto de fixação, em que a função regride. Assim podemos definir as disposições como inibições do desenvolvimento.  A neurose obsessiva em geral se manifesta em seus primeiros sintomas no segundo período da infância, ou seja, dos seis a oito anos. A neurose obsessiva bem como a histeria são as ditas neuroses de transferência e se apresentam já muito cedo na vida de um sujeito, subjacente a fases posteriores de desenvolvimento libidinal. Nesse estudo Freud (1913/2006) elimina a hipótese de que a neurose obsessiva fosse exclusivamente determinada pela atividade na experiência infantil, enquanto a histeria seria marcada pela passividade.
Na neurose obsessiva se observa um estagio no qual os instintos componentes se uniram para a eleição de um objeto e esse é algo extrínseco, em contrapartida com o eu do sujeito, contudo a primazia das zonas genitais (fase fálica) ainda não se estabeleceu. Os instintos componentes que se dominam anal-erótico e sádico. Podem se observados de modo bem claro nos sintomas obsessivos a força desempenhada por impulsos de ódio e erotismo anal. Freud (1908/2006) afirma que na organização pré-genital ainda não nos deparamos com a antítese masculino e feminino, mas com tendências de objetivos passivos ou ativos, que posteriormente se ligam a diferença dos sexos.  A atividade vem do instinto de domínio, por exemplo, o sadismo quando esse está a serviço da função sexual.  Já a passividade é suprida pelo erotismo anal.  
Freud (1908/2006) ao falar dos tipos de caráter coloca a importância de nós atermos aos comportamentos de uma de suas funções corporais e pelo órgão nela envolvida desse sujeito na infância. Existe uma ligação orgânica entre esse comportamento de um órgão ou função e um tipo de caráter.  Três características intimamente ligadas em um sujeito é ser ordeiro, parcimonioso e obstinado, fazem parte de um conjunto de traços de caráter. A conotação de ordeiro abrange tanto o meticuloso cuidado de cumprir deveres de modo fidedigno a um esmero pessoal.  Avareza seria a forma descomedida da parcimônia, já a obstinação pode mudar-se para rebeldia, que se entrelaça com a cólera e sentimentos de vingança.   Encontramos vínculos que interligam esses três traços de um sujeito. 
Em alguns sujeitos o caráter anal é mais intenso em seus desenvolvimentos, quando, por exemplo, a criança retinha as fezes como forma de obter prazer no ato de defecar, essas fezes eram interpretadas como algo precioso que deviam ser guardadas, funcionando já como meio dessa criança manipular um objeto e uma parte do seu corpo, a região retal, além das fezes ser visto como um presente dado ou privado aos pais. Segundo Freud (1908/2006) com o transcorrer do tempo essa sexualização da zona anal perde seu significado, em prol da primazia fálica, ou devido uma repressão. As pulsões sexuais são extremamente complexas. A excitação sexual tem diversas contribuições de excitações de partes do corpo periféricas, tais como boca, ânus, genitais, uretra e outros.  Essas regiões denominamos de zonas erógenas. As quantidades de excitações de cada uma dessas zonas não permanecem a mesma ao longo da vida do sujeito, ocorrendo mudanças, desvios, não tendo essas libidos o mesmo destino, uma parte delas é utilizada na vida sexual do sujeito, contudo grande parte da mesma é dirigida a outros fins ocorrendo à sublimação. 
No transcorrer da civilização, da cultura ocidental, da ordem e moralidade foi desviado os fins sexuais da zona erógena anal, sendo essa utilizada para esses fins como uma perversão sexual pela sociedade.  Assim esses traços de caráter como a ordem, parcimônia e obstinação sejam os resultados desse processo de sublimação do erotismo anal. Se analisarmos uma compulsão de limpeza e ordem, pode estar intimamente ligado a um desejo pela imundice que pertence ao corpo, logo esses comportamentos são formas reativas a esse desejo. Outra intima ligação é entre o apego ao dinheiro e da defecação. O dinheiro segundo Freud (1908/2006) é relacionado com o sujo. Esse elo pode ser encontrado em lendas, mitos e sonhos, que denominavam o ouro de fezes do inferno na babilônia. No ouro encontramos essa dualidade de ser o que existe de mais precioso como repugnante. Ocorrendo uma transferência desses impulsos primitivos das fezes para o dinheiro.  Destarte podemos afirmar que os traços de caráter são prorrogações de inviolados instintos primitivos ou a repressão, sublimação ou forma reativa dos mesmos.
Segundo Freud (1908/2006) quando tratamos do caráter a repressão não entra em cena e o retorno do recalcado, por isso se torna em analise obscuro de difícil acesso. Alguns dos traços sádicos e anal-erótico são a irritabilidade, despotismo, ser sovino e briguento. Uma alteração de caráter em mulheres corresponde a uma regressão na vida sexual delas ao um estágio anterior sádico e anal-erótico, esse estagio encontramos uma disposição a neurose obsessiva. Uma diferença entre mudança de caráter e a neurose é que no primeiro caso ocorre uma regressão completa, porém na neurose tal processo ocorre com conflitos, um impulso se esforça para que impedir a regressão, produzindo formações de sintomas como tentativa de apaziguar ambos os lados de jogos de forças e formações reativas a regressão
Contudo através de Lacan (1960-1961/1992) encontramos uma ampliação dos conceitos relativos à fase anal e caráter anal trabalhados por Freud (1908/2006) citados anteriormente. Evocando agora a demanda na fase anal, que consiste em reter os dejetos, fundando o desejo e expulsar. Ocorre nesse momento dessa fase anal uma exigência dos pais ou educadores, que demanda que o sujeito entregue algo que satisfaça, encontramos aqui o campo da “oblatividade”, que é própria do fantasma obsessivo, em meio a destruição do outro, ele faz entrega tudo para o outro para que esse mantenha sua existência. Essa demanda anal é exterior própria do campo do Outro. Assim o sujeito só satisfaz uma necessidade, próprio processo na fase anal, para satisfazer o outro.  Logo o que o sujeito pode entregar é o que retém, ou seja, seu dejeto, seu próprio desejo. Na clinica com obsessivos Freud (1907/2006) já relatava essa solicitude muito presente em alguns sujeitos, que Lacan (1960-1961/1992) retoma através dessa releitura da fase anal, aonde o obsessivo se anula enquanto sujeito e paga com seu próprio desejo o Outro. “Aqui, o sujeito se designa no objeto evacuado. Aqui está, se posso dizer, o ponto zero de uma […] do desejo. Ele repousa inteiramente no efeito da demanda do Outro- o Outro decide isso.”(p.217) 
Quinet (2007) coloca a importância do diagnostico na psicanálise quanto função do direcionamento do tratamento, estando ligados o diagnostico e a analise, aonde o diagnóstico só tem sentido se direção para a condução da analise. Esse é feito no registro do simbólico a cerca da travessia e inscrição do complexo de Édipo, ou seja, na inscrição do Nome-do-Pai que tem como conseqüência a significação fálica. Para delimitar as diferentes estruturas é preciso atentar para três tipos de negações do Édipo, duas dessas negam, mas o conserva se inscrevendo assim o Édipo no simbólico, se manifestando na neurose no recalque, isso é no sintoma, e na perversão no fetiche. Contudo quando nega e não deixa traços, nenhum rastro é a foraclusão, próprio das psicoses, aonde não ocorre a admissão do Édipo no simbólico.
Tudo o que é negado acima citado retorna, assim no recalque o que foi negado no próprio simbólico retorna no mesmo como um sintoma. No desmentido do perverso também é negado o simbólico que retorna no fetiche. Porém na psicose o que é foracluído no simbólico retorna no real. Quinet (2007) afirma que algo importante para compreender a distinção entre os pensamentos impostos da estrutura psicótica e as idéias obsessivas, os pensamentos, no neurótico obsessivo é que na psicose não reconhece como seus a cadeia significante, sendo algo que não é seu mais do outro que lhe invade, esses pensamentos são certeza um bloco que não pode ser submetido a duvidas. Já no neurótico se insere a duvida, muito característica no obsessivo que reconhece essa cadeia significante das idéias como suas, denotando assim com a duvida a própria incompletude do sujeito sua divisão. 
Dor (1994) em sua obra nos apresenta o diagnostico como essencialmente subjetivo na psicanálise, uma vez que esse só se sustenta por meio do discurso do cliente, do sujeito, que tem como anteparo a subjetividade do analista que o escuta. Assim a única técnica que o analista tem para essa avaliação é a escuta, na dimensão do dizer e do dito. Aonde esse diagnostico é sempre singular, na particularidade de cada sujeito e não se define pela esquematização de sintomas, mas na posição do sujeito frente ao seu desejo e fantasma. 
Diferente de outros diagnósticos, em psicanálise esse não deve ser fechado e impossibilitado de ao decorre da analise se mudado, ou impossível de ter equívocos, contudo as conseqüências em gerais não são tão graveis. Quinet (2007) como Dor (1994) ressaltam a importância do diagnostico nas primeiras entrevistas, antes da análise propriamente dita, é que em psicanálise a dimensão da cura é diferente, já que não podemos curo o sujeito do seu próprio inconsciente. Por mais se chegue ao final de uma analise, o sujeito sempre será barrado, e o inconsciente continuar se manifestando.  Dor (1994) salienta que depois de delimitar a estrutura do sujeito é preciso ainda nas entrevistas preliminares ir além chegando nos tipos clínicos de neurose entre histeria e obsessão, para por meio do diagnóstico possa se estabelecer as estratégias de analise, a base das mesmas são a transferência. Uma vez que o analista será invocado a ocupar o lugar do grande outro do sujeito na transferência, e a esse lugar que o sujeito dirigi suas demandas, sendo importante nesse período saber que lugar é esse que o sujeito ocupa nas suas relações com o outro e quais são as demandas.
Segundo Quinet (2007) o Outro do obsessivo goza, um gozo cruel e terrível. Esse Outro é muito próximo da figura do Pai primitivo da horda apresentado por Freud (1913/1996) no mito de Totem e Tabu, esse é puramente um mito obsessivo. Esse grande outro e detentor de gozo que impossibilita o acesso ao gozo ao sujeito. Esse Outro nada deve desejar ou falta, nessa relação com esse Outro o sujeito obsessivo se posiciona seu desejo como da ordem da impossibilidade.  Esse grande outro é o vigia constantemente e comanda. Assim coloca o outro no lugar de mestre e senhor, se colocando o sujeito como escravo. Na clinica é marcado por dois significantes: do pai e da morte, da relação da lei com a divida simbólica do assassinato do pai.
Dor (1994) apresenta como centro da lógica obsessiva da ordem da necessidade e da demanda e a ambivalência, que se ligam os sintomas como mecanismos de defesa tais como as formações obcecantes, o processo de anulação retroativa e do isolamento, dos rituais, as formações reacionais, a culpa, pesar e mortificação, além das características do caráter anal.
Safouan (1986) salienta que na relação entre angustia, sintoma e inibição, temos como ponto de saída a angustia, dela parte dois eixos, em um deles encontramos a pulsão como uma tendência a realização, ou seja, de se tornar ato, o autor denomina esse eixo de motilidade, ocorrendo a inibição, pois essa pulsão se realizada suscitaria um desprazer ao ego, por isso é inibida.  O outro eixo é o da significação, enquanto ato de significar, transcorrendo o sintoma. Aqui a pulsão se articula e se suporta sobre uma representação, ou seja, na linguagem.    
Assim o sintoma é sempre um compromisso entre duas instancias, uma conciliação que advém no simbólico. Advindo de um significante que cola no real. É o resultado do recalque, seu retorno, sendo um substituto de uma satisfação pulsional que não foi realizada.  Por meio dos sintomas o conteúdo recalcado tem acesso a consciência, é uma formação inconsciente, Freud (1926/2001) em sua obra afirma que os sintomas devem ser analisados como a realização de um desejo inconsciente. Mas como ocorre nos sonhos, essa realização não transparece na consciência. O sintoma é uma forma de lidar com a demanda desse outro, mas é um mecanismo ineficiente, não satisfaz nem a demanda nem o desejo, porém nesse compromisso não realiza nenhuma das duas.
Na psicanálise o sintoma como já foi referido é um substituto, é a metáfora do patogênico.  Safouan (1986) e Dor (1994) em suas releituras a Freud (1926/2001) defendem que o sintoma pode ser lido através da sua relação com a cadeia de significantes que o determina.  A antítese do sintoma é que esse apaga o sujeito, contudo é a única saída momentânea do sujeito se equilibrar diante de uma representação insuportável. Aqui a repetição é vista quanto insistência do significante. Os sintomas na neurose obsessiva são em geral preciosos para o eu, que obtém com eles uma satisfação narcísica, um ganho secundário.
Segundo Freud (1926/2001) as funções sexuais estão passiveis a diversas perturbações, nas quais a maioria se apresenta como inibições. Nos homens essas inibições vêm por um desprazer psíquico, ou seja, um afastamento da libido no começo do processo, a falta de preparo físico, a ausência de ereção, podendo ocorrer ainda a ejaculação precoce, a abreviação do ato sexual. Existe uma intimo entrelaçamento entre inibição e angustia. Uma inibição pode representar renúncia de uma função, pois essa produz angustia.  Acerca da função da alimentação, perturbações por falta de vontade de comer advêm de uma retirada da libido. Ainda existem inibições na locomoção, vistas como uma fraqueza no caminhar. A inibição pode incidir sobre a função do trabalho, o sujeito não sente mais prazer em suas atividades, se tornando menos apto de o realizar bem. O neurótico obsessivo levará muito tempo em suas tarefas devido a intromissões de repetições e sendo perpetuamente distraído de seu trabalho. Resumidamente a inibição é “[…] restrição de uma função do ego.” (FREUD, 1923/2001.p. 12). O eu renuncia suas funções como meio de evitar conflitos com o id, evitando novas repressões.  Mas o eu pode também com a inibição evitar o conflito com o supereu, ou seja, são inibições de caráter autopunitivo. Destarte segundo Lacan (1998), na inibição o sujeito se paralisa imaginariamente para não ser capturado pela demanda do outro, o que gera uma angustia por estar próximo de ser tomado pela demanda do A (grande outro), quase na posição de objeto. Uma excessiva exigência imaginaria pode gerar no sujeito uma inibição narcísica, isso é um excesso de imaginário no simbólico. Lacan (1998) reafirma o pensamento freudiano acerca da inibição, contudo sua leitura é atravessada por novos conceitos das estruturas: real, imaginário e simbólico. Aonde o estudo de Freud (1926/2001) se apresenta de forma mais intensa no âmbito do simbólico.
            A neurose obsessiva tem sua origem no imperativo de afugentar as exigências libidinais do complexo de Édipo. Freud (1926/2001) afirma que suas primeiras tentativas de defesa são de se lançar a organização genital, da fase fálica, para uma regressão, essa pode ser total ou em parte, a fase anal-sádica. No inicio do período de latência ocorre a dissolução do complexo de Édipo e pela consolidação do supereu, criando barreiras éticas no eu, no obsessivo esse processo é feito de modo mais intenso. Ocorrendo uma destruição do complexo de Édipo, além de uma regressiva degradação da libido e o supereu se torna feroz e rude, o eu fica a sua mercê em uma obediência cega, o que produz na consciência formas reativas. Ocorrendo muitas vezes uma paralisação de qualquer atividade masculina, por medo da castração. Momento crucial nessa neurose é no advento da puberdade, uma vez que se impõe novamente vigorosamente a organização genital. O supereu ainda mais exigente tentará a todo custo na supressão da sexualidade, a força defensiva se torna mais intolerante e já a força que tem de ser desviada é mais insuportável.  A repressão atua de tal modo nas idéias obsessivas que essas não modificam o conteúdo do impulso agressivo, porém as idéias livrasse do caráter afetivo. Assim a agressividade não é vista pelo eu como um impulso, mas como um pensamento, que não gera qualquer sentimento. “O que acontece é que o afeto deixado de fora quando a idéia obsessiva é percebida aparece em um ponto diferente” (FREUD,1926/2001.p. 43)
No decorrer da luta constante do id e supereu encontramos com duas ações do eu formam sintomas. Essa duas técnicas Freud (1926/2001) denominou de desfazer o que foi feito e isolamento. Particularmente na neurose obsessiva a técnica de desfazer o que foi feito é vista nos sintomas bifásicos, aonde uma ação é anulada por outra ação, de tal modo que é como não tivesse ocorrido nenhuma ação, contudo ambas aconteceram. O desfazer é o segundo motivo subjacente dos cerimoniais obsessivos, consistindo o primeiro em se precaver para impedir que um evento ocorra. As medidas de precaução são racionais, mas o fazer que não aconteceu já são irracional de caráter mágico. O isolamento é muito peculiar a esse tipo de neurose, que consiste quando algo desagradável acontece ou o neurótico obsessivo comete, ele intercala com um intervalo no qual nada mais deve acontecer, não podendo perceber ou fazer nada.  Aqui a experiência traumática não é esquecida como na histeria, é conservada, mas destituída de seu afeto e os elos associativos são suprimidos, de modo que permanece a cena isolada, não sendo reproduzido no pensamento comum. Safouan (1986) reafirma o pensamento freudiano de que o mecanismo próprio do obsessivo é o isolamento, ou seja, ao contrario da histeria que se lembra do significante, das cenas patogênicas. O obsessivo sempre tem amor em demasia, utiliza todas as ameaças do supereu para procrastinar o máximo possível a castração.
Atreves da leitura da Freud (1926/2001), bem como de Safouan (1986) que revisita os conceitos freudianos, podemos compreender que devido à elevada tensão no neurótico obsessivo entre o supereu e id, seu eu constantemente mantém afastadas fantasias e manifestações de ambivalências, não podendo nunca relaxar, fortificando as compulsões a isolar e concentrar. Impedindo assim as associações. Encontramos o tabu do tocar, pois o contato é a finalidade da catexia objetal amorosa e agressiva. O Eros almeja o toque como meio de torna o objeto amado e o ego um só. É preciso também o tocar para destruir.  Não se pode tocar, logo isolar é o meio de remover essa possibilidade.
Freud (1914/1996) ao fim de seus estudos desenvolve os tipos libidinais, como forma de melhor compreender a organização do sujeito e facilitando o processo de diagnostico das estruturas e tipos clínicos. Os tipos libidinais não se resumem a tipos clínicos, apresentam uma maior variedade, contudo alguns tipos se aproximam mais de uma estrutura em detrimento a outra. Assim Freud (1914/1996) conceitua três tipos principais de libido: erótico, obsessivo e narcísico. O primeiro erótico está mais ligado ao amor, tem forte aproximação com a histeria. Amar e ser amado, mas acima de tudo busca ser amado. Sendo subjugados pelo medo de perder o amar, se vendo muito dependentes do outro. No obsessivo predominantemente é marcado pelo superego que se dissocia do ego por uma forte tensão, temendo suas consciências. Tem uma dependência interna, conservando o sentido da civilidade do social, se aproxima da estrutura clinica da neurose, em especial da neurose obsessiva. Já o narcísico, ao contrario do obsessivo não apresenta fortes conflitos entre ego e superego, não necessita desse amor do erótico, o foco aqui é autopreservação, essa libido está correlacionada com a psicose.
Segundo Gazzola (2005), na estrutura obsessiva o falo é o mediador para o sujeito quanto ao seu ser, se organizando entorno do significante fálico. O neurótico é aquele que no estádio do espelho ocorreu uma rachadura na identificação, que faz com que se coloque fora do seu eu. Acontecendo um corte narcísico desse grande Outro, se separando do mesmo. Essa identificação narcísica é com o eu enquanto imagem de si, com esse corte temos uma identificação fálica.
Lacan (1998) apresenta a função fálica como entrando sobre esse gozo, barrando com a incidência do significante. O Falo faz um acolchoamento entre o imaginário e o simbólico, com relação ao gozo. Assim a função do falo, ou seja, a metáfora paterna é posto como uma significação invocada no imaginário do sujeito.  Esse falo pode está correlacionado a uma mãe como ao pai, no primeiro como simbolizando como objeto imaginário do seu desejo, já no segundo como um significação, ou seja, Nome-do.Pai.
            Gazzola (2005) afirma que a significação do falo é o que escapou do recalque, embasando-se assim no pensamento de Lacan (1998) sobre a função fálica, permitindo ao sujeito uma certa consciência sobre a função fálica, o falo é aqui visto como um falta-a-ser, que organiza as relações entre o desejo e o sujeito.  O falo tem uma dupla constituição como órgão real integrante da imagem do corpo e como investido de uma função significante. Na criança ela se ver como o falo, ou seja, como um significante de tudo aquilo que falta à mãe, assim ao seu desejo. Essa significação fálica é produto da relação entre a criança e o desejo materno, balizados pela incidência do Nome-do-Pai. Aqui o desejo é diferente de demanda, uma vez que estar submetido a lei paterna. O sujeito se registra enquanto ser o falo, mas o sujeito é um ser desejante, como tal a expressão do seu próprio ser é o seu desejo. Se alguém deseja é porque falta algo, isso quebra essa harmoniosa relação entre o infante e a mãe.            Assim o registro de ser o falo, em que sua existência consiste em preencher o desejo da mãe, ela mesma a criança sente a falta, uma vez que o desejo da mãe está algures. O sujeito que era o falo, se torna um falta-a-ser. Para o neurótico esses questionamento se coloca como ele não é o falo, posto que o tem, ou é o falo para o Outro, ou seja, não o tem.
            Segundo Dor (1994) o obsessivo se sente amado demais pela mãe, em geral se diz o filho predileto. Essa criança foi investida falicamente pelo desejo materno em primazia, o que evoca a noção de que os obsessivos são os nostálgicos do ser. Esse ser é essa relação primitiva que o obsessivo mantinha junto à mãe. Por esse angulo a grande questão da estrutura do obsessivo se firma sobre a sua existência.
            Essa relação que é criada vem do desejo insatisfeito dessa mãe junto ao pai, assim ela desloca o seu desejo a criança na crença que essa pode suprir o que o pai não supriu. Assim na criança se cria a imagem que a mãe pode encontrar nela o que espera do pai. A criança se ver como suplência de satisfação ao desejo materno. Sendo essa construção a base da estrutura obsessiva. A marca da ambivalência já se encontra nessa suplência, uma vez que a mãe dirigiu seu desejo ao pai, porém existe uma falta, a mãe não supre seu desejo, logo a lei se inscreve, já que esse desejo se remete ao pai, porém como essa mãe não é completamente satisfeita espera que a criança a complete. Lacan (1998) coloca que a grande questão do desejo obsessivo não é ter o falo, mas ser-lo, para restituir sua posição de objeto deixando seu desejo no lugar de impossível.  Aonde a origem do seu objeto de desejo vem do contrabando, ratificando assim a mesma idéia de Dor faz de sua leitura de Lacan (1998) da suplência materna.
            Nasio (2008) apresenta-nos uma forma esquemática acerca do diagnostico entre neurose obsessiva, histeria e fobia, baseado na posição do sujeito frente ao gozo inconsciente, definido as neuroses por meio das estratégias de defesa desse ego perante o gozo supracitado. Na neurose obsessiva ocorre um deslocamento desse gozo para um sofrimento do pensamento, ou seja, sofre conscientemente de pensamentos incessante, formando um desarranjo do pensamento. Já na fobia o que ocorre é uma projeção para o mundo exterior do gozo, o aprisionando em um objeto intolerável que é o fóbico. O histérico é marcado pelo padecimento no corpo com a conversão.
            Segundo Lacan (1998) é bem mais complexo e difícil identificar a agressividade na neurose obsessiva, pois é próprio de sua estrutura velar, deslocar, negar e minimizar as intenções agressivas, ocorrendo por meio de seus mecanismos defensivos. Outra questão relevante do obsessivo levantada por Lacan (1998) no seu retorno a Freud (1913/2006) é a divida simbólica. Uma grande questão que se coloca na clínica é como responder ao sujeito em analise, deve se voltar para em que lugar está o seu ego, ou seja, o sujeito formula sua pergunta para quem e através de quem. O obsessivo em geral carrega os objetos para o que Lacan (1998) denomina “jaula do seu narcisismo”, em uma tentativa de domá-los, dirigindo todas as ambíguas homenagens ao senhor que não se pode ver. Perceber essas relações são apenas possíveis através da relação do eu do sujeito o eu do seu discurso. È preciso antes de tudo compreender o discurso do seu analisado. Na lógica do obsessivo com o mestre, é a morte desse que ele espera. Como o escavo sabe que é mortal, sabe que um dia o mestre irá morrer, assim ele aceita trabalhar para esse senhor e renuncia a todo o seu gozo, porem é um renuncia de um período, vivendo na incerteza da morte do senhor que ele tanto aguarda pacientemente. Por todas essas questões podemos observar traços no caráter obsessivo de duvida e procrastinação.                     
            Quinet (2007) ressalta que o objeto a é aquilo que o sujeito só pode se beneficiar dele com o pressuposto de não o possuí-lo, esse é produto da metaforização do gozo que deixa um resto um mais-de-gozar.
            Nós somos sustentados pela estrutura discursiva do sujeito com o outro, essa relação é marcada pela impossibilidade e impotência. Lacan (1969-1970/1992) trabalha com quatro discursos fundamentais: analista, mestre, universitário e histérico. Só existe um sujeito porque existe o outro que o reconhece enquanto sujeito, logo como ser desejante. Assim existe uma necessidade estrutural de manter um laço social com o outro. É justamente nos buracos, ou seja na impossibilidade, que possibilita que ocorra um laço social com o outro. Quinet (2007) afirma que em todas as estruturas de discurso encontramos um agente que está subsidiado em uma verdade, que irá agir sobre algo para se obter um produto. Assim no discurso do mestre temos um agente, que denominámos de senhor (S1) que irá agir sobre o escravo que faz o trabalho (S2), nessa relação o produto é o objeto a que tem um valor no qual o escravo abnega para o gozo do senhor quanto sujeito.
Discursos próprios no neurótico obsessivo é o do mestre que consiste em: 
S1                S2
Sujeito          a

            Aonde S1 que é o significante mestre é o agente que é sustentado por uma verdade, que recalca a divisão do sujeito, para um outro significante (S2), ou seja um saber do outro. Como nem tudo pode ser representado no campo do outro, da linguagem, vem a marca da impossibilidade da relação com o outro deixa sempre um resto (a), por mais que ele fala e se dirija a um saber na posição de maestria sempre falta algo. Segundo Martinho (1999) o sujeito estar no lugar de verdade do discurso, porém quem goza do produto desse é o mestre. Essa é uma lógica bem vista no obsessivo aonde todo o gozo é o do outro. Outro discurso fundamental a ser compreendido é o universitário, que estrutura a relação com o saber, aonde submete o sujeito ao novo mestre, que ocupa o lugar de verdade.
S2                a
S1             sujeito

            O saber do conhecimento comanda um saber que reorganiza o real, para fazer uma incidência no real e para produzir um sujeito. Mas que tem como verdade um mestre recalcado, logo não é possível se produz sujeito com saber, com conhecimento se produz um cidadão, ocorrendo uma repetição do discurso do outro. Aqui encontramos um apagamento do sujeito desejante.
            Ribeiro (2003) diz que o obsessivo apresenta um dialeto particular, aonde a forte característica do mesmo é a forte presença do deslizamento metonímico, o neurótico obsessivo sabe do poder funesto das palavras, assim não só crê nela como a toma como uma religião particular. Possuindo palavras-chave e mágicas, que previnem o perigo, contudo essas são muitas vezes um compromisso e trazem nelas mesmo o temido o horror traumático velado. Muitas vezes os pensamentos como os rituais obsessivos como formas de prevenções mágicas, são sua religião particular. 
            Assim o obsessivo no seu trabalho na verdade não se encontra e nessa espera se identifica com o próprio morto, uma vez que ele mesmo enquanto sujeito desejante já está morto. Ele por sua vez tenta enganar o mestre de seu desejo de o ver morto, por isso cumpri todas as regras manifestando suas boas intenções no trabalho. Ribeiro (2003) afirma que em analise é comum que aparece mesmo como angustia ou temor a morte do analista. A função do Outro na neurose obsessiva é sustentada por um morto, representado por esse pai morto, ou seja, um pai todo poderoso e absoluto.

            A Neurose obsessiva em sua estrutura pressupõe os termos nos quais o sujeito não tem acesso a noção de sua própria existência, aonde sua estrutura forma uma espécie de resposta ao sujeito. Enquanto a histeria remonta questões próprias do feminino, o obsessivo remonta ao masculino no que tange suas estratégias obsessivas. Aonde a morte utiliza de muitas astucias para enganar, aonde o eu do sujeito entra em cena como suporte das apostas dessas façanhas. Segundo Ribeiro (2003) o gozo é transferido para um outro imaginário que sustenta o gozo como de um espetáculo, o sujeito na jaula o oferece. Todo o prazer fica para esse outro que não se pode tirar de cena sem que a morte se apresente. Logo esse outro imaginário a morte assumi o semblante, assim a morte se reduz o Outro real.
Devemos compreender o conceito de gozo como localizado no além do principio do prazer, estando intimamente correlacionado com a compulsão a repetição de situações dolorosas, mecanismo tão observado na neurose obsessiva. Assim no gozo se tem um prazer na dor, da repetição da cadeia significante. A repetição faz o sujeito ficar inerte. Não desejando se deparar com algo, com o real, encobrindo esse. Dizendo, por exemplo, que as causas da repetição podem ser o destino, Deus, ou seja, busca colocar sobre o real o grande outro. É o objeto que persegue o sujeito, logo o real que corre atrás do sujeito que a todo custo foge do mesmo, esse vive querendo cobrir esse real, não quer saber dele. De acordo com os autores citados; Lacan (1998), Dor (1994), Gazzola (2005) e Martinho (1999) concordam que o real está sempre perturbando o sujeito: real do sexo e da morte. É justamente esse real que empurra o sujeito e o movimenta.
Martinho (1999) afirma que o gozo aparece como exerço em relação ao prazer. Através da linguagem vem a introdução da lei que proíbe o sujeito desse gozo pleno e absoluto. Existindo na psicanálise fundamentalmente três noções de gozo o feminino, ou seja fora do campo da linguagem, o fálico que está diretamente ligado ao significante e o do outro, isso é o corpo próprio.
Assim em Freud (1920/2003) o gozo é colocado como esse excesso em relação ao prazer, ligado a pulsão de morte. Contudo em Lacan (1998) o gozo é o estranho e mais íntimo do sujeito, gozo esse sentido no corpo na relação de inclusão-exclusão com o significante. Para se obter o gozo é preciso uma transgressão, uma vez que a lei fálica o barra.
Segundo Ribeiro (2003) o neurótico faz um investimento libidinal sobre um objeto da fantasia em detrimento de um objeto real. No processo de analise o analista irá ocupar esse lugar segundo a perspectiva freudiana do objeto da fantasia, que posteriormente na visão lacaniana foi colocado como um objeto a, que causa o desejo. 
            No paradigma da psiquiatria era visto como aproximação as idéias delirantes das idéias obsessivas, sendo transtornos intelectuais. Assim na neurose obsessiva predominantemente ao contrario da histeria que os sintomas incidem sobre o corpo, os sintomas estão do âmbito do pensamento. Nessa neurose segundo Ribeiro (2003) é extremamente traumático o encontro do sujeito com o sexo, esse vem entrelaçado com um gozo em excesso que gera uma culpa. Assim o recalque atuaria sobre essa representação traumática, deslocando o afeto para a idéia substitutiva. Sento constantemente tomado de auto-critica por fatos até mesmo fúteis e sem lógica. A idéia obsessiva é similar no que delimita o afeto, mas não é verdadeira devido o deslocamento nela produzido.
            O obsessivo tem a marca da ambivalência, preso no eixo do espelho do amor e agressividade, na relação entre o eu e a imagem. A imagem do semelhante é também a imagem do eu, amamos o outro por meio do nosso próprio narcisismo, a agressividade vem quando sentimos ameaçada a integridade do eu.  Essa imagem perpassa pelo discurso do outro.  A linguagem atravessa o corpo, esse só é possível pelo banho da linguagem. O eu se sustenta por meio da linguagem e pela imagem, que se encontra em constante iminência de ser corrompida sua integridade.
As relações que um sujeito estabelece com o pai são da ordem da identificação.  Segundo Ribeiro (2003) o conceito de identificação de subdivide em três tipos, sendo em sua totalidade uma categoria muito ampla e complexa na psicanálise. Quando o sujeito se enleia com o outro, temos a identificação imaginaria.  Ocorrendo por meio do eixo - especular, baseada na ambivalência tanto no amor como no ódio. Em grupo podemos encontra esse tipo de identificação com o líder ocorrendo por amor, ou por ódio contra aquele que é estranho ao grupo. 
            Outra identificação colocada por Ribeiro (2003) é a regressiva, sendo a mais arcaica identificação, essa ocorre por meio de um traço do pai, esse traço é simbólico. Já a identificação histérica, pela via do desejo, aonde o sujeito se identifica pela falta que origina o desejo. Aonde nessa identificação sempre se exibe um desejo.  Apesar da histeria e neurose obsessiva, serem neuroses de transferência, existe estratégias diferentes que diferem esses tipos clínicos. A histeria aparente está mais próxima do desejo, uma vez que pela via do desejo pode se identificar com o outro, desvelando o tempo todo a falta do desejo para cultivá-lo insatisfeito. Já no obsessivo a estratégia perante o desejo é do zeramento ou anulamento do desejo, sendo um mecanismo mais intenso que tenta fazer um corte no desejo, acarretando muitos efeitos clínicos. Uma dessas estratégias e fazer calar o outro, ou seja, o desejo do outro, tentando o reduzir meramente a necessidade a ordem da demanda, assim tenta atender a todos os pedidos do outro. Sendo em geral muito solicito para com o outro, fazendo tudo pelo outro para não deixar nada escapar, o desejo, deixando esse oculto nos pedidos de demanda do outro.  Contudo em sua ambivalência pode ser também o sujeito do contra, que se opõem veementemente as demandas do outro, garantindo que poderia anular assim o desejo.
Contudo o desejo do obsessivo é sustentado como impossível. Ribeiro (2003) afirma que a temporalidade do obsessivo é      o tarde demais, sempre adiando seu desejo, procrastinando, sempre lento tentando escapar ao desejo, ou então é impulsivo, impetuoso, atua muito, agindo de forma que não possa ser responsabilizado por seu desejo. O obsessivo nutre uma forte crença no pai, nos traços simbólicos tomados do mesmo, nessa crença da força do pai, do pensamento e da palavra combate seu desejo, uma vez que esse é incestuoso contra a lei fundamental. Na neurose obsessiva encontramos tanto uma identificação simbólica com os traços, como imaginaria com o pai, o qual espera ocupar sue lugar. E por esperar ele lugar e ter o desejo incestuoso recaem sobre ele a culpa.


Referências:   
                                                                                                                                          BUKOWSKI, Charles. O amor é um cão dos diabos. Porto Alegre: L&PM, 2007.

DOR, Joel. Estruturas e clínica psicanalítica. Tradução: Jorge Bastos e André Telles. Rio de Janeiro, Taurus,1994.
                . O pai e sua função em psicanálise. Tradução Dulce Duque Estrada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.
FREUD, Sigmund .Além do Princípio de Prazer. Tradução Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: Imago,1920/2003.
                                . Atos obsessivos e Praticas Religiosas in Gradiva de Jensen e outros trabalhos. Tradução José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1907/2006. 9v. 
                                 . A dinâmica da transferência in O caso de Schreber, artigos sobre técnica e outros trabalho. Tradução José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago,1912/2006. 12v
                                 . A disposição à neurose obsessiva- uma contribuição ao problema de escolha da neurose in O caso de Schreber, artigos sobre técnica e outros trabalho. Tradução José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago,1913/2006. 12v
                               . A sexualidade na etiologia das neuroses in Primeiras Publicações Psicanalíticas. Tradução Orizon Carneiro Muniz. Rio de janeiro: Imago, 1898/1996.3v.
                                . Caráter e Erotismo Anal in Gradiva de Jensen e outros trabalhos. Tradução José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1908/2006.  
                                .Inibição, sintoma e angústia. Tradução: Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: Imago,1926/ 2001.
                                 .Luto e melancolia. In A historia do movimento psicanalítico. Tradução Jayme Salomão. Rio de janeiro: imago, 1917/1996. 14v.  
                                .Obsessões e Fobias: seu mecanismo psíquico e sua etiologia in Primeiras Publicações Psicanalíticas. Tradução Orizon Carneiro Muniz. Rio de janeiro: Imago, 1895/1996.3v.
___________      .O ego e o id.  Tradução José Octavio de Aguiar Abreu. Rio de janeiro: Imago, 1923/1997.
                                 . Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise in O caso de Schreber, artigos sobre técnica e outros trabalho. Tradução José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago,1912/2006. 12v.
                                . Recordar, repetir e elaborar. Tradução Orizon Carneiro Muniz. Rio de janeiro: Imago, 1914/1996.
                                 . Sobre o início do tratamento in O caso de Schreber, artigos sobre técnica e outros trabalho. Tradução José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago,1913/2006. 12v.
                                .  Tipos Libidinais in O futuro de uma ilusão, o mal-estar na civilização e outros trabalhos. Tradução Jayme Salomão.Rio de Janeiro: Imago, 1913/1996 .21v.
_________       __. Totem e tabu e outros trabalhos. Tradução Orizon Carneiro Muniz . Rio de janeiro: Imago, 1913/1996. 13 v.
______          ____. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Tradução Paulo Dias Corrêa. Rio de Janeiro: Imago,1905/2002.
GAZZOLA, Luiz Renato. Estratégias na neurose obsessiva. 2 ed.Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2005.
KUSNETZOFF, Juan Carlos. Introdução à psicopatologia psicanalítica. Rio de Janeiro: nova fronteira, 1982.
MELMAN, Charles. A neurose obsessiva. Tradução Inesita Machado. Rio de Janeiro: companhia de Freud, 2004.
RIBEIRO, Maria Anita Carneiro. A neurose obsessiva. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
QUINET, A. As 4 + 1 condições de análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1993.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Luzia-Homem: um caso de neurose obsessiva

Rouanet (1996) afirma que Freud possuía um apresso especial pelos romances e tragédias gregas, onde é evidente uma interdependência entre psicanálise e literatura. Logo, o analista não pode evitar o poeta, posto que esse narra diversas tramas psicológicas, mas antes de tudo fala do homem: suas paixões, ódios, desejos, esperanças e medos.

Para Rouanet (1996), tanto a literatura como a psicanálise debruçam-se sobre o mesmo material de trabalho e obtêm o mesmo resultado, porém por caminhos distintos. O analista se volta para os mecanismos psíquicos do outro (analisando), já o romancista ou poeta emerge entre seus próprios materiais inconscientes, em vez de censurá-los, oprimindo-os, o poeta os sublima produzindo sua obra literária. 
      
Deste modo, pode-se afirmar que a arte, segundo Rouanet (1996), se coloca em um intermédio entre a realidade, que priva o sujeito do desejo, e o mundo da fantasia, que realiza o desejo inconsciente. O romance não só se constitui em fantasias, mas está também inserido na realidade, sendo um livro que segue padrões e exigências da sociedade.

A obra literária é “[…] em vez de uma fantasia associal ele produz uma obra que permite a leitores e espectadores viverem por sua vez suas próprias fantasias, consolando-os pela frustração dos seus desejos” (ROUANET,1996, p.536). Pode-se assim inferir que a literatura tanto quanto a fantasia e o sonho são passíveis de serem interpretados. Como decorre no sonho, os romances também apresentam deformidade do seu conteúdo latente por meio da estética e regras gramaticais, sofrendo da ação da censura. A interpretação psicanalítica de um romance busca o desejo inconsciente escamoteado pela estética e erudição.  
      
Através de recortes do romance Luzia-Homem se propõe fazer uma interface entre a psicanálise e a literatura, apresentando o que esses dois saberes têm a dizer acerca da neurose obsessiva em mulheres.

Acerca do romance cearense Luzia-Homem do sobralense Domingos Olympio pode-se destacar que além de ter grande repercussão nacional, foi uma obra que divulgou a última fase do Naturalismo. O destaque dessa obra, além de adentrar as questões do sertão nordestino na grande seca do final do século XIX e a vida cotidiana dos sertanejos retirantes, traça um perfil diferenciado de uma mulher, fora dos padrões estabelecidos pela sociedade vigente. Divergir em muito do perfil das mulheres burguesas e casadoiras de José de Alencar e da literatura romântica, ao falar da sociedade da capital brasileira. Esse romance cearense quebra a hegemonia das histéricas na literatura brasileira ao traçar uma mulher cheia de excessos, produtiva, trabalhadora, a qual não sonha com filho e casamento.  Olympio (1985) descreve em sua obra uma mulher que não se destaca por sua fragilidade ou doçura, mas por sua atividade e bravura, traços próprios da masculinidade em sua potência fálica.

1. Quem era Luzia-Homem ?

Era uma jovem mulher que trabalhava na construção da penitenciária de Sobral. Ela era a única operária mulher entre homens jovens e vistosos que empunhavam tijolos, cintilando em suor. As demais mulheres trabalhavam na costura de roupas da cidade. Todos na cidade se horrorizavam com os feitos da Luzia-Homem.  

Segundo Olympio (1985, p. 9):

Viram-na outros levar, firme, sobre a cabeça, uma enorme jarra d’água, que valia três potes, de peso calculado para a força normal de um homem robusto. De outra feita, removera, e assentara no lugar próprio, a soleira de granito da porta principal da prisão, causando pasmo aos mais valentes operários.

Mas apesar dessa potência fálica e masculinidade, Luzia-Homem era uma mulher, inscrita no não-todo, que se manifestava apesar de suas tentativas de tamponar o desejo, em seus contornos femininos representados pelos quartos arredondados, que causavam o desejo de todos os homens da cidade, com suas amplas formas.

Pode-se inferir que Luzia-Homem era como as mulheres descritas por Valore (2005) que cada vez mais aparecem em sua clínica na atualidade. Essas são mulheres belíssimas, contudo, observasse que para essas a beleza não é mensurada como algo ditoso. A beleza é levada como um fardo, que impossibilita que essas mulheres deixem de serem olhadas.
Deste modo, pode-se estabelecer uma diferença entre a posição histérica e de Luzia-Homem e das jovens narradas por Valore (2005), uma vez que as histéricas vivem no árduo trabalho de se reconstruir frente ao olhar do outro, buscando sempre que esse denuncie o que deve ser corrigido, contudo nunca conseguem dissipar a falha do corpo, ou seja, de uma falta. Já na neurose obsessiva o corpo não é marcado por uma falha, mas padece do adoecimento do excesso. Luzia-Homem se revolta com os olhares que desperta no outro, enquanto sua melhor amiga Terezinha que se enquadra na histeria sente ciúmes dos olhares que sua amiga causa aos homens. Enquanto Luzia rejeita e repudia tais olhares.  

São as palavras de Terezinha que denunciam a feminilidade de Luzia a destituindo da posição de mulher fálica. Tal cena acontece quando Terezinha vislumbra Luzia tomando banho de rio em noite de luar. A amiga denuncia sua castração ao dizer: “[...] porque vi com meus olhos que é uma mulher como eu” (OLYMPIO, 1985, p.16).
      
Luzia-Homem trabalhava com afinco e prazer, sentia-se útil no trabalho e produtiva, não cai em tentações e devaneios como as moças jovens da cidade. Além disso, tinha de ganhar mais, pois tinha se sustentar e cuidar da mãe doente, a qual foi incumbida da missão por seu Pai ao falecer. Segundo Olympio (1985, p. 9):

Em pela florescência de mocidade e saúde, a extraordinária mulher, [...], encobria os músculos de aço sob as formas esbeltas e graciosas das morenas moças do sertão. [...] cumprindo, com inalterada calma, a sua tarefa diária, que excedia à vulgar, para fazer jus à dobrada ração.

Pode-se resumir que Luzia-Homem era uma mulher castrada como todas as outras. Porém aceitar essa feminilidade é bastante antagônico na mulher obsessiva, já que essa apresenta como completa, mas o real sempre incide gerando angústia ao mostra que ela tem o buraco ou então que o outro tem o buraco. Para Olympio (1985, p. 15):

Sob os músculos poderosos de Luzia-Homem estava a mulher tímida e frágil, afogada no sofrimento que não transbordava em pranto, e só irradiava, em chispas fulvas, nos grandes olhos de luminosa treva.

2 A dívida para com o pai morto:

Quando criança Luzia-homem morava em um pequeno sítio com o pai e a mãe. A mãe sempre lhe fora extremamente afetuosa e bondosa, porém com uma saúde limitada e frágil. O Pai era um homem forte e trabalhador. Luzia se identificava com o Pai e o admirava, queria ser o filho homem que ele não teve, vestia-se como o pai e aprendia o mesmo ofício paterno. Lidava com os animais e cuidava da roça. Assim não só ajudava nos serviços do Pai em lidar com a terra, como o auxiliava a cuidar da mãe. Durante a grande seca do século XIX que assolou o Nordeste, seu pai falecera, deixando o dever da filha de cuidar das terras e dá mãe.
      
Pela falta de chuva, foi necessária a venda das terras, por isso passou a trabalhar na obra da prisão, quando não estava trabalhando, estava ministrando cuidados a mãe doente. Luzia-Homem tinha uma dívida simbólica para com esse Pai morto, em prol de tal dívida ela renunciava seus desejos: de sair e se divertir como as outras moças, de ter um namorado, mesmo nutrindo afetos a um rapaz, e ir para o litoral. Não podia levar a mãe ao litoral, pois a viagem era longa e árdua e no estado de saúde da mesma não resistiria à jornada. Apesar dos sacrifícios, abdicava de seus desejos em prol de pagar a dívida. 

Rinaldi (2003) fala que a característica do obsessivo é a anulação do desejo frente sua posição ao desejo materno, identificando-se muitas vezes com o objeto anal, dos restos, dejetos. Ressalta ainda a dependência da neurótica obsessiva com Outro em relação ao desejo, esperando que esse der seu aval quanto ao seu próprio desejo.  Constantemente nega o fim, a morte, a perda, ou seja, os representantes da castração. Assim, na neurose obsessiva observa-se essa dificuldade de sustentar o lugar do desejo, buscando sempre mecanismos para situar esse desejo como fora, na tentativa de anulá-lo. Pode-se observar essas características em Luzia-Homem, que constantemente se denigre como mulher que cause o desejo do homem, se colocando no lugar de dejeto, de flagelo, descuidada, suja.  Fora seu constante e árduo trabalho de anulamento do desejo.
      
Contudo, não era árduo para Luzia-Homem essa vida de deveres, abdicando de seus desejos inconscientes, ao sustentar e cuidar da mãe, uma vez que essa era tudo no mundo para a jovem, a vida lhe corria bem, pois tinha aceitado seu destino sem queixa junto à dívida para com o pai, residindo no circuito da demanda. Tudo muda quando emergem os desejos do soldado Crapiúna junto a ela.  Desejos esses que se colocam na ordem do insuportável. Posto que o desejo do outro, deflagra seu próprio desejo, denunciando a falta, ou seja, a castração. Crapiúna era o soldado que guardava a obra da penitenciária, esse não se conformava com o desprezo de Luzia. Ele vivia a persegui-la com galanteios e palavras lúbricas, contudo ela nunca aceitava suas palavras, rejeitando com empáfia e nojo. 
      
Apesar de todas as tentativas obsessivas de Luzia de tamponar a falta, a castração e o real, esse sempre emerge lhe causando estranhamento e angústia.  O sexo apresentava-se nas cartas que o soldado lhe enviava, essas lhe deixavam incinerada, não conseguindo despregar os olhos até a última linha, depois se sentia ultrajada, culpada, jogando-as fora.  Porém, as palavras retornavam em pensamentos obsessivos, esses a torturavam. Tentava não pensar, trabalhando e rezando com mais afinco, mas as palavras sempre retornavam, e a cada retorno ela dizia: “Este homem será o causador da minha desgraça” (OLYMPIO, 1985, p.14).
      
Diferente de Capriúna, aonde se encontra o representante do sexo, tem-se do outro lado Alexandre, representante do amor, que era seu grande amigo, que lhe auxiliava nos cuidados para com a mãe. Esse trabalhava como guarda do armazém da cidade. Pode-se colocar aqui essa dissociação entre amor e sexo. Alexandre nutria grande afeição por Luzia a pedindo em casamento, porém ela nunca aceitou. Não queria casar com ele, pois se assim o fizesse estaria aceitando ajuda dele para dividir seus fardos, porém não admitia que ninguém se sacrificasse por ela, apenas ela poderia pagar a dívida ao Pai morto. 
      
O soldado rouba o armazém e faz com que Alexandre seja preso em seu lugar, deste modo ele se livra do rival. Luzia-Homem tenta provar a inocência do rapaz, com todo afinco, além de levar a refeição do rapaz todos os dias. Ela sente-se em dívida com o rapaz, pois ela tinha se rejeitado a deita-se com o soldado. Logo, o rapaz pagava o preço de sua renuncia de se colocar como objeto desejante. Para soltá-lo resolve trabalhar em dobro, pois assim teria dinheiro para pagar uma feiticeira que fazia uma reza para libertá-lo. Entre suas empreitadas para ganhar dinheiro, resolve vender seus cabelos para a mulher do delegado da cidade, era o que tinha de mais belo. A mulher não aceita seus cabelos, porém lhe dar o valor que a moça pediu pela venda. E diz a Luzia que desse dia em diante os cabelos são dela, portanto Luzia fica com os cabelos na cabeça, mais pertence a ela mulher do delegado. Como agora os cabelos não lhe pertenciam, Luzia passa a cuidar cautelosamente dos mesmos, passando óleos e os lavando, para que assim possa pagar a dívida para com a mulher do delegado. 
      
Luzia recusa se casar com Alexandre ao dizer que seu dever para com ele terminava quando ele fosse solto, cortando seus afetos do dia que ele é liberto. Ou seja, só fora possível manifestar seu desejo junto ao rapaz quando esse se colocava na ordem do impossível, ele estava preso, quando ele é liberto e o desejo pode ser satisfeito, é novamente anulado. Assim que Alexandre é solto, Luzia-Homem com a mãe e a família de Terezinha partem para o litoral.

3 Considerações finais acerca do romance:

Em resumo o que se pode inferir de Luzia-homem segundo Olympio (1985, p.45):

Sentia-se incapaz de amar; carecia-lhe a fraqueza sublime, essa languidez atributiva da função da mulher no amor, a passividade pudica, ou aviltante de fêmea submissa ao macho, forte e dominador, irresistível, como aprendera na intuitiva lição da natureza: essa comovente timidez de novilha ante a investida brutal do touro lascivo, sem prévios afagos sedutores, sem carícias e beijos correspondidos, como nos idílios das rolas mimosas  Não: não fora destinada à submissão. Dera-lhe Deus músculos possantes para resistir, fechara-lhe o coração para dominar, amando como os animais fortes: procurar o amor e conquistá-lo; saciar-se sem implorar, como onça faminta caindo sobre a presa, estrangulando-a, devorando-a. Não era mulher como as outras, como Teresinha, para abandonar a família, o lar, a honra, por um momento de ventura efêmera, escravizando-se ao homem amado, contente de sacrifício, orgulhosa do crime, insensível ao vilipêndio, sem olhar para trás onde ficaram os tranqüilos afetos, para sempre perdidos: e, por fim, consolada à torpeza do repúdio infame, à margem da estrada da vida, como um resíduo inútil, condenado a vis serventias, trapo que foi adorno cobiçado, molambo que vestiu damas formosas, casca de fruto saboroso e aromático.
Não; fora feita para amar. Seu destino era penar no trabalho; Por isso, fora marcada com o estigma varonil; por isso, a voz do povo que é eco de Deus, lhe chamava Luzia-Homem.

Como uma mulher obsessiva, encontra-se em Luzia-Homem uma nostalgia do ser, nesse retorno ao mundo da completude e tranquilidade do seio materno, ou seja, de ser o falo da mãe. Não se colocando assim na reivindicação histérica de ter o falo, de ter um homem. Além das questões de não sair da lei, não operando o desejo, por o considerar ilícito e incestuoso. Não consegue pela supremacia superegóica infligir crimes e gozar deles, vem à culpa. Nesse trecho citado acima pode-se analisar a ambivalência própria do obsessivo em Luzia-Homem, no ódio, fome, destruição de devorar o outro, de completude ter o outro completamente em fundição na fantasia de comer o outro inteiro.  

Sua força é voltada para a produção e o trabalho, mas irremediável é uma mulher e a incompletude de seu corpo a denúncia como uma mulher, como qualquer outra como proclamou Terezinha ao vê-la nua tomando banho de rio, ela se espanta com o comentário e logo corre para tamponar sua falta com a toalha encobrindo os buracos do seu corpo, velando sua castração.

Luzia-Homem primava sobre tudo por sua honra e moral, não conseguindo agir fora da lei, mesmo em suas situações de penúria e miséria. Os poucos flertes que perpetrava o desregramento como: ao ler as cartas do soldado, ao pentear com delicadeza e esmero dos cabelos, do ódio que cultivava pelas mulheres da cidade que falavam mal dela, queria bater nelas ou grita com essas, porém sempre calava, terminava por censurar-se e preencher-se de sentimentos de culpa ou autopunitivos. Luzia não apenas trabalhava na construção de uma penitenciária, como construía para si um aprisionamento a distanciando dos desejos incestuosos, no momento em que essa tenta romper com essa prisão fazendo um corte, ao partir para a praia, o soldado Capriúna foge da cadeira a encontrando na estrada. Nesse embate, Luzia-Homem mais uma vez reage com todas as suas forças contra esse lugar objetal e passivo, ocupado pela mulher frente ao desejo erótico masculino, ela o morde, o ataca, resistindo às tentativas do soldado de seduzi-la, até que o soldado a mata enfiando uma faca ao seu peito. E a última palavra de Luzia-Homem é mãezinha, remetendo a esse momento anterior de completude para com a mãe.