domingo, 13 de fevereiro de 2011

Cisne Negro

Cisne negro: o ballet do corpo real.


          Um filme como pouco que já assisti que pode ser definido como intenso e sublime em suas composições de arte, música, direção, atuações e roteiro. A todos que gostaria de ter uma aula sobre psicose, mas especificamente paranoica, precisam ver esse filme. Com ele é possível entrar dentro dos olhos da psicose e assim captar o que para nós seria impossível o campo do Real, aonde a linguagem falhou.

         O filme é muito claro ao mostrar como se estrutura o delírio e as alucinações. O delírio vem em suplência desse nome-do-pai foracluído, como uma tentativa delirante de barra o gozo que o devora, impedindo a demanda desse Grande Outro materno. No caso Nina tenta não ser engolida pela mãe que fez uma colagem nela, aonde não tem separação, não tem pedaços que caem, para se separar Nina precisa de um delírio de que seus dedos caem para pode enfim separar-se desse grande outro, criando assim o Cisne negro o oposto da nina cisne branco, descolando da garota meiga da mamãe, contudo não é uma saída neurótica logo o cume do filme é sua tragicidade e beleza da última cena.  Para a linguagem se inscreva, a sexualidade, a separação desse Grande Outro é preciso um cisne negro nasce e com ele matar o ideal de cisne branco construído por essa mãe.

         Para todos que gostariam de compreender o que é Real para Lacan, bastar ver o corpo que nina ver, esse corpo de carne e sangue, de pedaços e nada mais. Um corpo não sexualizado, um corpo que os buracos apenas se apresentam nos delírios, um corpo que não separa real e fantasia. Tudo é real.



Recomendo a todos vejam o filme.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O que é O Alfarrábio do analista?

       
  
          É  um caderno de notas, reflexões, transcrições e discussões... Assim pretendo fazer desse espaço um lugar de divulgação da psicanálise: com analise de temas, discussões, resumo de obras pertinentes ao campo analítico e esclarecimento de dúvidas de internautas. Além abrir espaço para que as pessoas apresentem suas questões, pensamentos acerca do que aqui é escrito, bem como também suas reflexões, podendo ainda sugeri temas a serem debatidos, ou então deixem aqui suas duvidas, proporcionando assim um lugar de esclarecimento e aprendizagem mutua de quem ler esse alfarrábio, como dessa que lhes escreve. Deixando um pouco o meu dia-a-dia de analista. 


Se me indagarem o porquê da clínica de ser analista. Eu diria:

          Tenho um forte interesse pelas questões da psicopatologia da psicanálise, que foram despertadas ao longo da faculdade de psicologia, juntamente com o meu encantamento pelo paradigma da psicanálise. Assim fui me encaminhando o estagio em clínica na abordagem da psicanálise... Ao sair da universidade me deparei com uma sala vazia que aos poucos construí minha clinica física e subjetiva, aonde trabalho até hoje. 
         A importância da clinica psicanalítica e suas contribuições ao meu ver está no fato da psicanálise não anular o sujeito, dessa forma saí da lógica capitalista e do discurso político de apagar o sujeito, em benefício da figura do passivo consumidor, sendo um serviço diferencial. Na visão psiquiátrica o sujeito em nada se ver implicado com os seus transtornos, esses devem ser tratados com remédios. Por meio da psicanálise encontramos um resgate do sujeito ativo, implicado com seu desejo, esse escolhe sua estrutura, decidindo seu adoecimento psíquico, mesmo que seja inconscientemente, não ocorre ao acaso esse adoecimento e formulação de uma estrutura de personalidade em vez de outra.
        Ainda acerca das diferenças entre a psiquiatria e a psicanálise, na segunda leva em consideração no diagnostico estrutural do sujeito seu gozo e relações com seu objeto, aonde o fio conduto do tratamento é o desejo, enquanto a psiquiatria se focaliza no sintoma. Na psicanálise não encontramos uma idéia de simples catalogação de sintomas, mas de uma estrutura clínica que todo sujeito no campo da neurose tem a opção de escolha, essa inconsciente, de uma neurose histérica ou obsessiva.  Nessa perspectiva fala-se de uma posição estrutural e não de uma entidade nosográfica. Para a psicanálise o diagnóstico ocorre através de como transcorre a fantasia fundamental do sujeito enquanto máquina de gozo, ou seja, considerando assim as modalidades de gozo do sujeito, além de suas relações objetais, contudo na psiquiatria o diagnóstico se organiza entorno dos sintomas apenas.
             Encaro o sujeito na  perspectiva psicanalítica, isso é , como sujeito da linguagem, que ao se inscrever na criança o simbólico, se criar bordas no real, e durante o processo de alienação e separação da criança com o pequeno e grande outro, possibilita que esse faça buracos no mesmo, deixando cai o objeto a, ou seja, o objeto causa do desejo perdido, barrando esse outro, como não todo. Assim o sujeito é dividido, barrado, logo o saber é sempre não todo, não existindo uma verdade absoluta, apenas verdades parciais.

A minha intervenção na clinica psicanalítica se baseia no pensamento de Dolto (1989) de se busca uma ética e não uma moral, que se compreende como um código de comportamentos, já a ética busca uma intenção no seu alvo, ela é do desejo e não do gozo, sendo assunto do sujeito fundado no simbólico, a moral desrespeita ao ego e superego que está no imaginário. Segundo Alberti (1996) afirma que a via da clínica do sujeito passa pela mudança da queixa pela demanda de analise, demanda na qual o sujeito se compromete, reconhece-se como sujeito da fala, implicado com seus sintomas, percebendo quando atribui ao outro a causa de seu problema. Buscando assim uma modificação eu seu discurso, na transformação das entrevistas preliminares em analise.

Resumindo de modo bem simples: 
- A psicanálise não é classificatória não amarra a pessoa em um sintoma. 
- O sujeito ( a pessoa) é sempre capaz de mudar de posição de sair de uma passividade para uma atividade, ele e só ele é responsável por suas ações e transformações. E esse não é um sujeito fixo, mas com contornos e movimentos é sempre um sujeito que fala, que tem desejo, que tem uma falta e busca saciar esse vazio. Nunca é um sujeito completo e perfeito. 
- Na clinica não se trabalha com a moral, com o certo e errado, com o bem ou com o mal, transcende-se essas categoria, em prol de uma ética. Aonde não existe um saber absoluto, sempre existe um buraco nos discursos.

Notas: 
ALBERTI, Sonia. Esse sujeito adolescente. Rio de janeiro: Relume Dumará, 1996.
DOLTO, Françoise. Dialogando sobre crianças e adolescentes. Tradução Maria N. Brandão Benetti.Campinas: Papirus,1989.