terça-feira, 22 de março de 2011

Corpo e Adolescência:


Levin (1998) afirma que o desejo significa busca de algo faltoso. E a falta é a própria causa do seu desejo. Aqui temos toda a frustração e cumplicidade desse conceito. Para ele esse corpo não é global mais de um sujeito incompleto, logo é faltoso também, tem um buraco em si.

È preciso então investir e ter um novo olhar sobre esse sujeito, tomando o tônus muscular atravessado pela linguagem e dialogo por meio do desejo do outro, que se inscreve no inconsciente desse bebê essa dermacação pelo desejo do outro no simbólico. Assim não temos um mero corpo biológico e limitado, mas um corpo de linguagem com imagem corporal que se expressa e fala por meio dos gestos e do esquema corporal.

É preciso no desenvolvimento psicomotor que essa criança se aproprie do seu corpo, que a principio não é dela, ela tem de vivenciar, representar esse corpo. Para forma esse corpo é preciso uma relação com um outro, um outro que já formula a imagem de uma criança antes mesmo dela nascer, e por meio da demanda desse outro sobre o corpo dessa criança que ela se humaniza, ou seja, sai da estância da necessidade para uma outra ordem a pulsional e desejante. O pedido de uma criança passado pelo outro sai da necessidade e cria um sentido, uma simbolização, passa a ser uma demanda.  Assim esse outro vai nomear essa criança e investir nela, a partir disso possibilita essa criança se sentir integrada ligada, em uma unidade corporal e capaz de também nomear esse outro distinto de si. 

Da unificação desse corpo por meio do estádio do espelho Levin (2001) coloca esse corpo como projeção e formulação de imagens de completude, de uma unificação especular formulando um esquema corporal, o corpo como uma unificação imaginaria e de fantasias de fragmentação, passa o sujeito a um eu ideal de uma imagem que ele faz de si mesmo, mas que nunca coincide com ela. O esquema corporal é, segundo Levin (1998), o que o representa do próprio corpo, é ter noção e conceito sobre esse corpo. Esse pode ser explicado fala de uma generalidade da espécie humana. Já a imagem corporal é formada pro um sujeito desejantente sai dessa lógica evolucionista, se constituí no devir histórico da experiência psíquica. A imagem é única própria cheia de investimentos, linguagem, sexualidade, de um percurso libidinal inscrito pelo outro sendo inconsciente e por meio dela que se singulariza esse esquema corporal pré-consciente, uma vez que esse pode ser comparável com outro já a imagem jamais. 

Ainda acerca do esquema corporal que é o que se pode dizer ou representar a cerca do corpo com noções de prioceptividade, interoceptividade e exteroceptividade. A imagem corporal segundo a leitura de Levin (2005) de Winnicott tem como precursor o rosto materno, onde pelo olhar da mãe a criança se vê refletida. Assim a criança se reconhece como uma e não fragmentada por meio da sua imagem especular e para isso é preciso o intermédio do corpo do outro , no qual ela se identifica e se diferencia. O espelho aqui é uma metáfora e o que unifica é o desejo da mãe.

O corpo aqui é atravessado da linguagem, banhado assim de um imaginário e de um simbólico, das fantasias, o real é o que o homem não suporta ver, o real vem entrelaçado com a angustia, esse irrompe a realidade do sujeito com aquilo que não pode ser dito, explicado, simbolizado. Esse real vem muito com a degradação do corpo, com a morte.  O corpo real é a carne em si, a coisa que não pode ser representada, que não cessa de não se inscrever, esse real é o não ligado, o resto não articulado como coloca Levin (2001). Já o corpo imaginário é o corpo das imagens, remetendo a uma unidade ao espaço de completude, necessita de um outro que inscreva essa imagem por meio de um dizer desse corpo.

O corpo simbólico é o corpo significante, da ordem da linguagem. Antes mesmo do nascimento de uma criança, já existe um corpo para esse filho investido pelos pais, onde coloca um lugar, lhe dando contornos, formatos, formando assim um corpo simbólico.  

Acerca da adolescência Anna Freud caracterizou-a como um período de conflitos internos e desequilíbrios psíquicos, que acompanham a maturação sexual da puberdade, onde ocorre uma intensificação das pulsões, em especial da agressividade, além de acompanhar diversas modificações do corpo e das suas representações, gerando diversos conflitos.

Segundo Eric Rayner (1978) a puberdade consiste na maturação de características sexuais primárias e secundarias, com diversas modificações no corpo. Tais transformações apresentam repercussões psicológicas e físicas, essas determinam diversas novas capacidades do indivíduo. As transformações sexuais ocorridas nesse período forçam o indivíduo se perceber como apito para a procriação, para as relações genitais. O seu corpo agora tem o mesmo vigor e tamanho dos pais, o que vai destituir esse do antigo poder ilusório dado a eles, uma vez que agora ele é igual aos pais, porem ainda não se responsabilizou por seus novos papais seja sexuais ou no trabalho. Ocorrendo uma destruição das imagens dos pais, com essa perda ficara um vazio dentro dos adolescentes que jamais serão preenchidos completamente, porém eles buscam substitutivos, mas um sentimento de tristeza e vazio ainda permanece freqüentemente são ditos conscientemente como uma saudade de um tempo que passou a infância.  

Anna Freud coloca um grande momento de tensões na adolescência devido a essa realidade do corpo, como maduro sexualmente, junto com o reaparecimento dos antigos desejos edipianos, os quais são ameaçadores pela possibilidade de concretização.

Puberdade segundo Kusnetzoff(2005) não se restringe a um estágio ou período , mas se trata de uma crise, que inicia com a natureza, no qual em curto período emergem pulsões sobre o aparelho psíquico, o surpreendendo a se adaptar a essas novas exigências instintuais. 

Antecedendo a puberdade depois do período de latência é a pubescência, Kusnetzoff (2005) coloca como sendo um momento de indiscriminação dos investimentos pulsionais. Onde esse sujeito vai manter uma nova relação com o seu esquema corporal, onde como coloca Freud (2002) existe uma diferenciação entre os sexos. O garoto continua na valorização narcísica exacerbada do pênis. Já a garota faz um investimento narcísico por todo seu corpo.

Na puberdade segundo Freud (2002) ainda sobre a diferença, aqui ocorre a real diferenciação entre os caracteres masculinos e femininos. As atividades auto-eróticas das zonas erógenas são semelhante em ambos, o que na infância é impossível uma diferenciação sexual, onde o que prevalece é a bissexualidade. Quanto às meninas a zona erógena dominante é o clitóris que seria homóloga a masculina a glande. Na puberdade ocorre um recalcamento que afeta a sexualidade do clitóris, nesse recalcamento temos essa parcela da sexualidade masculina. Ocorrendo assim um deslocamento da excitabilidade do clitóris para a vagina, assim a mulher na puberdade muda sua zona erógena dominante já o homem conserva a sua. 

Segundo Kusnetzoff (2005) a adolescência se caracteriza pelo amadurecimento orgânico e físico do corpo desse garoto ou garota que provoca grandes alterações no aparelho psíquico. Entre essas mudança o autor destaca a possibilidade real do sujeito concretizar sua sexualidade genital, se distanciando da sexualidade polimorfica infantil. Agora a libido se concentra no aparelho genital. Esse momento é de grande tensão e conflitos, onde esse sujeito tem de conciliar suas necessidades pulsionais libidinais com as normas da sociedade em que vive das leis estabelecidas pela função paterna.

o sentimento de nostalgia dessa infância perdida, onde a revolta vem como um modo de negar toda essa carência e dependência, do conformo e segurança proporcionado pelos pais, que agora é sentido como uma falta. Logo essa perda e falta deve ser elaborada pelo sujeito por meio de um luto dessa infância.

Acerca dessa escolha objetal não é definitiva na adolescência, muitas vezes são fixações identificatórias.

Jersild (1989) coloca a importância da continuidade das fases, e do sucesso para a transição depende de como foram resolvidas as fases anteriores.  O desenvolvimento das fases não é algo inacabado. Alguns problemas não resolvidos na adolescência podem continuar na vida adulta, que permaneceram com o indivíduo ate que eles os resolvam.

Na obra A dominação Masculina de Bourdieu (1999) podemos analisar melhor essas questões do corpo ideal buscado pelos adolescestes hoje, aonde a supremacia do masculino ainda impera. As áreas criticadas pelos rapazes sempre são das partes pequenas do seu corpo, em quanto as moça se sentem mal às partes grandes do seu corpo, constituindo assim as mulheres ainda como objetos simbólicos. Então por isso encontramos muito mais essa insegurança quanto a perfeição da aparecia nas moças, uma vez que essas para existirem precisão do olhar do outro que as coloca como objetos desejáveis ou não.

O adolescente passa por devesas mudanças do seu corpo, primeiramente hormonal, entre tais transformações vem o rápido crescimento dos membros superiores e inferiores, o forte suor e nascimento de pelos na genitália. Nas meninas ocorre o crescimento dos seios, definição da cintura, os quadris ficam mais largos e salientes, além da primeira menarca que é tão marcante para a constituição psíquica, o seu aparelho reprodutor estar formado. Já nos rapazes vem a mudança da voz, crescimento da barba e definição do tamanho do pênis, tão almejado pelos rapazes como a representação de sua virilidade e potencia.

Em meio a todo esse contexto de transformações desse esquema corporal, o adolescente ver a necessidade de elaborar um luto das antigas formas e reconstruir uma nova imagem corporal, não mais de uma criança mais de um adulto, porém todo esse processo é angustiante, uma vez que esse jovem se depara com o real do corpo, desse corpo que muda, um corpo carne não representado, porém é preciso reformular pro meio de imagens esse corpo fazendo um novo corpo unificado imaginário, por fim intermediando com o simbólico, com a linguagem com o desejo e falado. Desse modo o jovem se reestrutura e inscreve uma nova imagem e noção de si mesmo. 

De modo geral sobre o corpo do adolescente devemos ressaltar como coloca Mila (2002) que é um período de mudanças corporais, onde se faz necessário se redefinir a imagem corporal relacionada à perda de um corpo antes infantil para poder ter como nova aquisição um corpo adulto. Além de romper com os pais e todas as suas representações tendo uma maior autonomia, frente ao seu corpo e a si mesmo. Esse período é bastante complexo como ressalta a autora devido a um aumento libidinal no qual desconheci seu eu e seu corpo, no qual faz o adolescente se sentir rejeitado pro si próprio.  Nessa destruição dos vínculos infantis tem um grande conflito entre as polaridades, bem e mal, masculino e feminino, eu e outros. Porém é preciso todo esse esfacelamento desse corpo, dessas imagens para poder formar uma nova identificação e integração corporal, do eu.