segunda-feira, 13 de maio de 2013

Psicologia do desensolvimento II ( Perdoa-me por me traíres)


 

Nota de aula: clínica psicanalítica com adolescentes.

 

 

Considerações acerca da adolescência:

 

Tradicionalmente a adolescência é vista como as transformações psicológicas derivadas da puberdade – do latim pubertas, significa “idade viril”. Rompendo com essa visão Anna Freud (2006) caracterizou a adolescência como um período de conflitos internos e desequilíbrios psíquicos, que acompanham a maturação sexual da puberdade, onde ocorre uma intensificação das pulsões, além de acompanhar diversas modificações do corpo e das suas representações.

Dolto (1989) define puberdade como sendo as pulsões nos quais os efeitos são sentidos nos genitais pelos rapazes e nas moças causa perturbações vagas que vem ambos suscita a masturbação. Nesse momento são criadas fantasias de encontros, porém ao contrario do período de latência, imaginá-las não mais dar conta das fantasias, uma vez que entra em jogo a região genital, na busca pelo outro.

Na puberdade segundo Freud (2002) ainda sobre a diferença, aqui ocorre a real diferenciação entre os caracteres masculinos e femininos. O garoto continua na valorização narcísica exacerbada do pênis. Já a garota faz um investimento narcísico por todo seu corpo, como pela cintura, seios, rosto, pernas, nádegas, etc. Ocorrendo assim um deslocamento da excitabilidade do clitóris para a vagina, assim a mulher na puberdade muda sua zona erógena dominante já o homem conserva a sua. 

Segundo Alberti (1996) a puberdade trás uma regulação da vida sexual do sujeito centralizada nos genitais, devido o complexos de Édipo é normalizada, pela inscrição de uma lei fundamental. O adolescente se depara com o real do sexo, para a impossibilidade da completude da relação sexual. Na psicanálise não existe uma estrutura clínica do adolescente, como todos os seres tem suas estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão).

Ruffino (1996) defende que o sujeito se encontra em crise quando não encontra o lugar do seu gozo, já o adolescente de modo generalizado se encontra nessa situação.  Na clinica psicanalítica se pensa a adolescência não como uma etapa simplesmente da evolução humana, mas como uma operação psíquica e como tal visa um efeito no sujeito.

Dolto (1989) em sua experiência clinica com adolescente diz que esse é sempre polieuta, ou seja, ele precisa queimar aquilo que adora. Logo a via de trabalho com adolescentes deve ser de permitir um lugar para que esse seja sujeito da fala, aonde poderá manter distantes as suas pulsões, ao invés de cometer suas atuações. 

Perdoa-me por me traíres:

Nelson Rodrigues, um grande escritor brasileiro, escreveu uma peça intitulada Perdoa-me por me traíres, que é classificada como uma tragédia carioca, que retrata a história de uma adolescente de dezesseis anos de classe média.  Glorinha era criada dês de criança pelo Tio Raul, irmão de seu pai, e por sua esposa Tia Odete, porém essa era uma louca. A moça acreditava que sua mãe tinha se suicidado, com a morte de sua mãe seu pai enlouquecera e passara a viver em uma casa de repouso.  Sua melhor amiga era Nair, a convida para cabular a aula para ganhar dinheiro em um bordel de Madame Luba.

Recortes:

“Nair- Que máscara é essa?

Glorinha- Por quer Máscara?

Nair- Máscara sim senhora! (…) E aquela farra que nós fizemos, nós duas.

Glorinha- Sei lá de Farra!

Nair- No carnaval, esse que passou! Madame, fomos com uma turma ao apartamento de um cara. E lá, sabe como é: bebemos, pintamos o caneco. A Glorinha estava com uma fantasia sem alça em cima da pele! Veio um engraçadinho e , pela costas, te puxou o fecho ecler até embaixo. Ficou pelada, Madame.

Glorinha- Eu estava de pileque  Madame! Tanto que nem me lembrava. (…) Olha até agora não passei do beijo.” (RODRIGUES, 2003,p.786)

 

 “As duas modalidades de eletrização que podemos observar nos corpos correspondem às duas espécies de carga elétrica encontradas no átomo. (mudando de tom, num apelo soluçante) Não se mexa: fique assim!”(RODRIGUES,2003.p.789) 

 

“ Finalmente, o DR. Jubileu cai de joelhos, porque alcança o máximo da tensão. Assim de joelhos, mergulha o rosto nas duas mãos e tem um soluço interminável, grosso como um mugido.” (RODRIGUES,2003.p799).

 

“Tio Raul – Tu me odeias?

Glorinha – Não

Tio Raul – Não, odeias o assassino da tua mãe?

Glorinha – Não.

Tio Raul – Mentirosa.

Glorinha – Pois odeio, pronto odeio.” (RODRIGUES,2003.p.819)

 

Referências:

 

ALBERTI, Sonia. Esse sujeito adolescente. Rio de janeiro: Relume Dumará, 1996.

CORRÊA, Ana Izabel(org). Mais tarde… é agora! Ensaio sobre a adolescência. Salvador: ágalma,1996.

DOLTO, Françoise. Dialogando sobre crianças e adolescentes. Tradução Maria N. Brandão Benetti.Campinas: Papirus,1989.

FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa. Porto Alegre: Civilização Brasileira, 2006

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Tradução de Paulo Dias Corréa. Rio de Janeiro: Imago, 2002.

Relações interpessoais ( Ato de ensino)

Ato de ensino: um entrelaçar entre psicanálise e educação.



            Ato, no paradigma da clínica psicanalítica, é o nome dado as intervenções do analista no processo de analise junto ao analisando. Quando fazemos esse elo entre psicanálise e educação, propomos buscar no ensino um ato, ou seja, fazer com que o sujeito (aluno) possa formular seu próprio saber, libertando-o do saber do Outro. A função do professore nessa abordagem não é apenas de repasse de informações, mas de construir um ato de ensino, com o qual possibilita ao seus alunos produzir um saber transformador e ético com seus desejos.

Segundo Sordi (2005), no campo psicanalítico a inteligência é definida não só apenas como uma capacidade de operar a realidade para auto-conservação, mas de criar uma realidade por meio dos seus próprios recursos: simbólico e imaginário. Assim o homem inteligente é aquele que tem compreensão de sua existência e vai a procura do seu próprio saber.

O sujeito:

Sujeito desejante, barrado, dividido.

O mundo:

*Três dimensões:

 real-simbolico-imaginario.

*Realidade do sujeito:

É eminentemente de linguagem e sexualizando. (simbólico e imaginário)



Ensino aprendizagem:

Ao inserir os conceitos psicanalíticos na educação acerca do inconsciente, coloca-se o pressuposto, no campo educativo, da existência de um saber que o Eu nada sabe do mesmo, ou seja, um saber que não pode ser controlado. Ou melhor, afirma-se que existe um saber que não se saber, mas se sabe.

Entre informar e transmitir existe uma grande diferença. Mendonça Filho (1998)

 coloca que ao contrario de informar, a transmissão não se prende a um saber consciente, assim transmissão não pode ser entendida como um diálogo que se realiza plenamente entre o educador e educando. Desse modo, na transmissão as palavras não só são a expressão do que desejamos passar para o outro, como também a impossibilidade do aluno as compreender em suas totalidades. O Eu não conhecer outra realidade que não sua realidade interna, formulada dentro de seu campo relacional, ou seja, “apreendido a totalidade do objeto não passa de uma ilusão do Eu.”( p. 79)

      Garcia (1998) afirma que o educador lida com transmissão do saber e o aluno movido pelo desejo de saber, uma vez que ele não tem o saber, coloca o professor na posição de suposto saber, recalcando a impossibilidade de plenitude do saber do mestre. Por meio desse desejo ocorre uma relação identificatória do aluno para o professor, ou seja, uma transferência.

      Professor x Aluno:

Freud (1976) afirma que a relação professor aluno é marcada pela ambivalência (amor/ódio). Sendo muitas vezes substitutivos dos seus primeiros objetos amorosos (os pais). Mendonça Filho (1998) ressalta que a identidade do professor parte de dois pressupostos: ideal e real. Logo o ensino assim parte da premícia da relação da imagem ideal do professor para com a limitação do homem real. Ser professor é uma função.

      Barros (2008) ressalta a importância de se foca nesse professor e seu desejo de sustentar esse lugar de educador. Assim como o aluno, o professor é um sujeito dividido e permeado por um fantasma.  

Educação:

No campo da educação se colocam árduos jogos de força entre amor e ódio, entre a produção, criação e a destruição. É permeada por jogos de poder existentes na relação junto ao saber e sua transmissão. Educação é ética, respeitosa para com o outro e sobre tudo coerente, não anulando as diferenças para se massificar e alienar em um todo coeso e igual.

Referência Bibliográfica:

BARROS, J. B.  Psicologia da educação : ensino- professor. Porto : Livpsic,2008

FREUD, S.  Além do princípio do prazer. Rio de Janeiro : Imago, 1976.

                    Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar. Rio de Janeiro :Imago, 1976.

                    O ego e o Id.. Rio de Janeiro : Imago,1976.

LOPES, E. M. T. (org) A psicanálise escuta e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

MACIEL, M.R. Interface- Comunicação, Saúde, Educação v.9 n.17. Botucatu: MAR/AGO, 2005.

SORDI, R. O. A constituição da inteligência: uma abordagem psicanalítica. Psicologia: Reflexão e Crítica , 18. SET/DEZ de 2005.