sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Dinâmica de Grupo ( aula II: identificação)


Nota de Aula: Identificação




“Termo empregado em psicanálise para designar o processo central pelo qual o sujeito se constitui e se transforma, assimilando ou se apropriando, em momentos chaves de sua evolução, dos aspectos, atribuídos ou traços dos seres humanos que o cercam”(ROUDINESCO; PLON, 1998.p. 363)


Existem varias interpretações no meio psicanalítico sobre a identificação.

 De modo geral na obra de Freud é entendida como um desejo recalcado (inconsciente) de agir ou ser como alguém.

A identificação pode acontecer também de forma grupal, se identifica uma única pessoa com a totalidade de um grupo, no caso o líder. Uma identificação como uma única pessoa pode conter vários traços de varias pessoas.



Freud nos fala de Três Identificações:



Primeira: o de incorporar da criança na fase oral, pré-edipica. No modelo canibalesco. Devora o desejado.

Segunda: identificação regressiva, é o que acontece, com o sintoma histérico, se imita um sintoma da pessoa investida libidinalmente. Pegando um único traço da pessoa. Identificação recai na escolha de um objeto que leva a outro.   



Exemplo de Identificação:

(Livro interpretação dos Sonhos)

Uma mulher deseja que o desejo da amiga de engordar não se realize, para que essa não seduza seu marido, que tem fraco por mulher de carnes. Marido açougueiro.  No sonho dessa mulher ela não tem o desejo realizado: Ela se ver emagrecendo. Ela se identificou com a amiga, e sonha que lhe acontece o que deseja ver sucedido com a amiga. Ocorrendo um traço na vida real na sua ojeriza a comer caviar. 


Terceira: Que é a vontade ou tentativa de se colocar em uma situação idêntica a do outro, viver como ele vive. Como no contexto da comunidade de vivenciar um lugar espaço, que liga todos a um contexto, pelo objetivo se sentem identificados, membros de uma coletividade.





Lacan nos fala de Duas Identificações:

Para esse autor a identificação de forma geral é sempre de um traço unitário. Onde o primeiro traço na cadeia de significação é do nome-próprio.

As outras identificações são:

Primaria: ocorre com esse pai simbólico, com as leis, com o mundo da linguagem. 


Secunda: é a histeria, aquela se coloca como desejo do desejo do outro. Marcando a dependência do sujeito com o outro. (Que queres?)



Referências:



MOSCOVITZ, Jean Jacques; GRANCHER, Philippe; Para que serve uma análise?  Rio de Janeiro: Zahar, 1991.
ROUDINESCO, Elisabethe; PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar. 1991

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Dinâmica de Grupo: (aula I- Transferência)

Nota de aula:
Transferência


Lugar

“O vazio do porta-retrato
Abre espaço para uma rosto
Desconhecido.
E eu reconheço a repetição do fato:
Ali será a vitrine
Do próximo amor
Recém-nascido.”(Claudia Schroeder)

Língua

“O meu amor não merece tantos erros de português
A conjugação errada
Do passado
Enquanto a regra aponta que é presente
Que entre nós o futuro
Nunca estará ausente.
Vivemos em gerúndio
Todo dia
Nos amando, quem diria.
Por isso, o meu amor não merece
A tristeza, a incerteza, a traição
Nem tantos outros erros meus
Como o excesso de vírgulas
Pontos finais
E o uso inniterrupto
Da palavra não.
O meu amor não merece tantos erros da minha língua
Quando ela deveria apenas
Permanecer
Dentro de sua boca.”(Claudia Schroeder)


Transferência é uma pratica do desencontro, aonde essa não se sustenta por uma relação igualitária de dois. Aonde se desliza algo na direção do profissional que advém de outro espaço e tempo do sujeito.  Na transferência se refere inconscientemente a um objeto que reflete outro.
A dinâmica da transferência :
 (Freud)

Repetição relação mãe- bebê

“Uma parte daquele impulso que determina a vida erótica, passa por todo o desenvolvimento psíquico, esta na consciência, mas outro foi retido no curso no desenvolvimento afastado da consciência da personalidade, ficou todo no ICS, ou nas fantasias. “ Segundo Freud
 O sujeito nunca poderá fugir ou se destituir completamente da relação com o outro.
O profissional tem de renunciar sua posição narcísica de receber o amor do outro, de saber a transferência é um erro de pessoa, renunciar seu gozo narcísico.

Tipos de Transferências:

positiva: amor transferencial, amor a falta.
negativa: agressiva ou erótica, não aceitação da falta.



A dinâmica da transferência : 
(Lacan)


Transferência é um amor genuíno em busca de um objeto perdido.
O amor tem uma anulação do simbólico e aproximação com o imaginário.  Busca retornar uma completude perdida. Uma saudade de uma unidade originária (Mãe-bebê), porem é impossível essa restauração.

Contra-Transferencia é algo de não analisável no profissional, seus próprios demônios, não é simples ou fácil se colocar nessa posição de objeto a, objeto que causa o outro.


Referência:
ROUDINESCO, Elisabeth e PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. Rio de janeiro: Zahar,1998
SCHROEDER, Claudia. Leia-me toda. Porto Alegre: Dublinense,2010.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Clinica psicossomática (Primeira atividade)


Lista de Filme, escolha um deles para analisar juntamente com a referência indicada no programa da disciplina:


Lista de filmes:

 Século XVI :

Caravaggio (1986)

Direção: Derek Jarman

Michelangelo de Caravaggio, famoso pintor da Renascença, é procurado por assassinato e foge da lei há anos. Sua única companhia é o jovem aprendiz Gerusaleme, um surdo-mudo que ele adotou ainda criança. Em seu leito de morte, Caravaggio relembra os fatos mais marcantes de sua vida. Adolescente, sobreviveu se prostituindo e pintando retratos, até ser acolhido por um cardeal. Anos mais tarde, se envolveu com o casal Lena e Ranuccio, que se tornaram seus modelos. A explosiva relação a três terminou por detonar uma série de tragédias.

Elizabeth:

Diretor Shekhar Kapur leva às telas a cinebiografia da rainha Elizabeth I, que assume o trono inglês em um período conturbado e decide por sacrificar sua própria vida pessoal para enfrentar as ameaças ao seu reinado. Com Cate Blanchett, Geoffrey Rush, Joseph Fiennes e Richard Attenborough.

A Megera Domada:

(Taming of the Shrew, The, 1967)

 Um cavalheiro do século XVI, que ficou pobre, viaja quilômetros atrás de uma esposa rica. Ele encontra uma mulher não só rica como bonita. Tudo ia bem até que ela veio com umas idéias bastante esquisitas, que séculos mais tarde ficariam conhecidas como feminismo.

Com Elizabeth Taylor e Richard Burton. Direção Franco Zeffirelli

Shakespeare Apaixonado :

é um filme de 1998 dirigido por John Madden,

William Shakespeare precisa escrever uma nova peça de teatro, uma história de amor com fim trágico, mas está sofrendo um bloqueio e somente uma musa inspiradora poderá ajudá-lo. Ao se apaixonar por Lady Viola, ele volta a ter inspiração e escreve a peça Romeu e Julieta.

Muito Barulho por Nada:

(Much Ado for nothing)

Direção Kenneth Branagh

Uma guerra militar acaba de terminar, mas a 'divertida guerra' entre Beatrice (Emma Thompson) e Benedict (Kenneth Branagh) está apenas começando! Conseguirão seus amigos fazer com que eles, ao invés de brigar, façam amor? Enquanto isso, conseguirá a devoção de um outro casal superar as maliciosas mentiras do perverso Don John (Keanu Reeves)? Agora, cabe ao policial desajeitado (Michael Keaton) salvar o dia e fazer com que o verdadeiro amor ainda possa superar os obstáculos!

Século XVII:

 

O outro lado da nobreza:

Direção: Michael Hoffman

Inglaterra, 1660. Carlos II sobe ao trono após os anos de terror do governo de Oliver Cromwell. É nesse cenário da Restauração que jovem estudante de medicina experimenta guinada radical em sua vida e seus amores ao ser convidado para fazer parte da corte.

Escola para mulheres

(L'École dês femmes)

De 1940 :filme francês de Max Ophüls com Louis Jouvet e Madeleine Ozeray

De 1973: filme francês de Raymond Rouleau com Isabelle Adjani, Bernard Blier e Gérard Lartigau

MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA

 (baseado no romance de Tracy Chevalier sobre o quadro de mesmo nome do holandês Johannes Vermeer; aborda as relações de trabalho e de poder na Holanda).

O Libertino: (2004)

John Wilmot (Johnny Depp), o 2º Conde de Rochester, é um rebelde provocador e um gênio literário da restauração inglesa do século XVII. Wilmot é convocado pelo rei Charles II (John Malkovich) a escrever uma peça,

As aventuras de Moliére: (2007)

O jovem diretor e ator de peças teatrais, Moliére, zombava da nobreza em suas peças popularescas em praças e tavernas animando a baixa classe francesa. Cada dia, ele e sua trupe se tornarvam mais populares entre os pobres até que, por não pagar as taxas obrigatórias ao governo, o rapaz acaba sendo preso. Tudo parecia perdido até que seus débitos foram pagos por Monsieur Jourdain, um rico empresário que, em troca do favor, deseja a ajuda do escritor para interpretar uma cena para cortejar uma bela moça, Célimène. Como o empresário é casado e pai de duas filhas, o segredo deve ser mantido e ator é levado a casa como um religioso, amigo de Jourdain. Enquanto passa por uma de suas maiores provações em termos de interpretação, Moliére terá de escapar de vários desvios que podem atrapalhar sua carreira.

Cyrano de bergerac (1990)

Fala sobre a beleza masculina.

No século XVII, Cyrano, espadachim e poeta, ama sua prima Roxanne, mas não se declara, porque tem vergonha do nariz descomunal. O próprio diretor e Jean-Claude Carrière (roteirista de Luis Bu uel e de "A Insustentável Leveza do Ser") adaptaram quase ao pé da letra a peça em versos de Edmond Rostand (1868/1918), encenada pela primeira vez em 1897, mas esta, com reconstituição de época irrepreensível, é a mais fiel e mais imponente, tendo recebido vários prêmios, inclusive o de melhor ator para Depardieu no Festival de Cannes (ele também foi indicado para o Oscar)

 

Século XVIII:

Maria Antonieta

Marie Antoinette de 2006. Neste foram usados cenários como o Palácio de Versalhes, inclusive quartos proibidos para visita normal do público. A direção e o roteiro do filme são de Sofia Coppola. O papel principal coube a Kirsten Dunst.

O perfume: a história de um assassino (2006)

Direção: Tom Tykwer

Paris, 1738. Jean-Baptiste Grenouille (Ben Whishaw) nasceu em um mercado de peixe, onde sua mãe (Birgit Minichmayr) trabalhava como vendedora. Ela o tinha abandonado, mas o choro de Jean-Baptiste faz com que seja descoberto pelos presentes na feira. Isto também faz com que sua mãe seja presa e condenada à morte. Entregue aos cuidados da Madame Gaillard (Sian Thomas), que explora crianças órfãs, Jean-Baptiste cresce e logo descobre que possui um dom incomum: ele é capaz de diferenciar os mais diversos odores à sua volta. Intrigado, Jean-Baptiste logo demonstra vontade de conhecer todos os odores existentes, conseguindo diferenciá-los mesmo que estejam longe do local em que está. Já adulto, ele torna-se aprendiz na perfumaria de Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman), que passa por um período de pouca clientela. Logo Jean-Baptiste supera Baldini e, criando novos perfumes, revitaliza a perfumaria. Jean-Baptiste cada vez mais se interessa em manter o odor de forma permanente, o que faz com que busque meios que possibilitem que seu sonho se torne realidade. Só que, em suas experiências, ele passa a tentar capturar o odor dos próprios seres humanos

A duquesa (2008):

Direção : Saul Dibb

Georgiana Spencer (Keira Knightley) casou-se aos 18 anos com o Duque de Devonshire (Ralph Fiennes), que queria a todo custo ter um filho. Possuindo o título de Duquesa de Devonshire, logo Georgiana demonstrou sua inteligência e perspicácia perante a corte inglesa. Entretanto ela não conseguia dar ao duque um filho, com todas as suas tentativas de ficar grávida resultando em abortos ou em filhas. Isto faz com que o relacionamento entre eles se deteriore, pouco a pouco.

Século XIX:

Ligações perigosas:

É um filme americano de 1988 dirigido por Stephen Frears e baseado em peça homônima de Christopher Hampton, que por sua vez é baseada no clássico da literatura francesa Les liaisons dangereuses, de Pierre Choderlos de Laclos.

A Época da Inocência: (1993)


 

Direção : Martin Scorsese

Nova York, 1870. Um advogado (Daniel Day-Lewis) está de casamento marcado com uma jovem (Winona Ryder) da aristocracia local, quando uma condessa (Michelle Pfeiffer), prima de sua noiva, volta da Europa após separar-se do marido. As idéias dela chocam a tradicional sociedade americana e, ao tentar defendê-la, o advogado se apaixona por ela e correspondido.

Orgulho e Preconceito (2005)


Direção:Joe Wright

As cinco irmãs Bennet - Elizabeth (Keira Knightley), Jane (Rosamund Pike), Lydia (Jena Malone), Mary (Talulah Riley) e Kitty (Carey Mulligan) - foram criadas por uma mãe (Brenda Blethyn) que tinha fixação em lhes encontrar maridos que garantissem seu futuro. Porém Elizabeth deseja ter uma vida mais ampla do que apenas se dedicar ao marido, sendo apoiada pelo pai (Donald Sutherland). Quando o sr. Bingley (Simon Woods), um solteiro rico, passa a morar em uma mansão vizinha, as irmãs logo ficam agitadas. Jane logo parece que conquistará o coração do novo vizinho, enquanto que Elizabeth conhece o bonito e esnobe sr. Darcy (Matthew Macfadyen). Os encontros entre Elizabeth e Darcy passam a ser cada vez mais constantes, apesar deles sempre discutirem.

Emma (1996)

Emma é um filme anglo-estadunidense de 1996, do gênero comédia romântica, dirigido por Douglas McGrath e com roteiro baseado em obra homônima de Jane Austen, publicada em 1815.

Emma Woodhouse é uma mulher bonita, inteligente e rica, que vive confortavelmente ao lado do pai viúvo na pequena cidade de Higbury, no interior da Inglaterra. Quando a sua governanta, Miss Taylor, se casa com o vizinho, Mr. Weston, Emma sente um vazio em sua vida e decide ajudar as pessoas a terem uma vida tão perfeita quanto a sua. Torna-se, então, uma casamenteira e passa a dar conselhos na vida sentimental das amigas, apoiando, aprovando ou desaprovando os romances conforme seu juízo de valores. Mas, apesar de aparentar autoridade no assunto, ela se revela uma mulher que nunca se apaixonou.

Sedução da Carne (1954)

"Sedução da Carne" é mais um ótimo filme do grande cineasta italiano Luchino Visconti.  Tendo como pano de fundo a ocupação austríaca da região norte da Itália, mais precisamente de Veneza, e os movimentos nacionalistas que lutavam pela unificação do país, na segunda metade do século XIX, Visconti nos apresenta uma bem construída história de paixão, traição e vingança.

 

Clínica psicossomática (aula II-corpo no medievo)


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO: PSICOLOGIA
DISCIPLINA: CLINICA PSICOSSOMÁTICA.
PROFESSORA: CAMILA GUIMARÃES
CRP 11-06163

 

Nota de Aula:

O corpo no medievo

 
“Cada entidade singular tem sua própria história individual
 e seus peculiaridades”
(Elias)
 

 

Segundo Rodrigues (1999), na idade média não existia uma separação dos corpos, não existindo uma dicotomia entre corpo e mente. Os quartos eram coletivos, e a parte mais importante da casa era a sala onde se recebiam as visitas, acolhendo e dando abrigo aos viajantes. Não existia uma diferenciação entre o público e o privado, a vida acontecia nas ruas de forma coletiva. Podemos observar que durante a idade média não existiam sepulturas individuais, os mortos eram enterrado em uma vala comum. Desse modo, não era possível conceber um corpo individual, privado no universo medieval, o corpo era social e público.  Não tinha essa dimensão de intimidade, que só surgiu com o capitalismo. Tudo era público, os corpos se comunicavam e não se separavam, todos juntos comiam, se vestiam, dormiam e defecavam, postos que toda ação é pública.

 

Na população medieval era constante a troca de contatos e substâncias, de gestos em demasia, abraços e beijos. O corpo era da desmesura, da liberdade de ação, da expansão, misturado e compartilhado com outros corpos e animais. Existia uma grande proximidade entre homens.  Era um corpo de orifícios e liberdade, de sons e gases. Era um corpo que falava e não era contido.  Assim, segundos Rodrigues (1999), a ideia de indivíduo e de privacidade é uma construção histórica.

REFERÊNCIAS:

ARIÉS, Philippe e CHARTIER, Roger.(1991) (org) História da vida privada: da renascença ao século das luzes. (H, Feist trad) São Paulo: Companhia das letras.

CRESPO, J. (1990) A história do corpo. Lisboa: Difel.

ELIAS, N. (1994) A sociedade dos indivíduos.  (V. Ribairo trad) Rio de Janiero: Jorge Zahar.

RODRIGUES, J. C.(1999) O corpo na história. Rio de Janeiro: Fiocruz.

VIGARELLO, G.(2006) História da Beleza: o corpo e a arte de se embelezar do renascimento aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Ediouro.

 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

TTP I ( Aula III- A verdade no sujeito da ciência e da psicanálise)


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÀ
CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: TTP I
PROFESSORA: CAMILA GUIMARÃES

 

NOTA DE AULA

 

“Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo”
(Clarice Lispector)

 

O sujeito lacaniano que Fink (1998) retorna é o do ne na língua francesa, da expressão ne pas. Isso que dizer uma hesitação, uma ambigüidade, um não na declaração.  Esse não dizer é o sujeito inconsciente que se contrapõe ao consciente do Eu. Assim o sujeito é dividido, barrado, desejante. Barrado pela linguagem, alienado dentro do Outro.

Esse sujeito inconsciente é transitório não emerge sempre no discurso. “Esse sujeito não tem outra existência além de um furo no discurso.”(p.63) Essa menção do sujeito enquanto furo é a perspectiva freudiana, que é esse intruso no discurso pela emergência do inconsciente. O intruso é o sujeito, como ele aponta e logo em seguida desvanece; não tem um substrato, um ser no sujeito.

De acordo com Quinet (2000), Descartes, ao se indagar quem eu sou, teoriza o conceito de sujeito pela primeira vez na história das idéias. O que é verdade para Descartes, é o que pode ser concebido de forma clara unicamente pela razão. E foi a partir desses  pressupostos que se deu inicio da ciência moderna. O sujeito cartesiano não é o sujeito da psicanálise, mas o sujeito da ciência. Porém a psicanálise deve a Descartes sua origem posto que ela é fruto da modernidade

Descartes na elaboração do seu sujeito, descarta os sentidos e o próprio corpo por vê-los como enganadores. Dessa forma: “O que vejo, o que ouço, apalpo ou sinto não me dizem o que eu sou; meu corpo tão pouco me define.”(Quinet,2000. P.11) Assim, em tudo o filosofo duvida de todas as existências, formulando um Deus  perverso  cuja ação não é outra senão a de enganar o sujeito. Então o único ponto de certeza seria o pensamento, uma vez que era a única coisa que não poderia ser descartada do sujeito. Logo se não penso não existiria. Logo o sujeito de Descarte considera verdadeiro tudo aquilo que a razão formula de forma clara e distinta.

Na sua colocação que penso logo existo, assegura esse ser do sujeito através de Deus. No caso o sujeito de Descartes liga o pensamento ao Eu.  A visão de Lacan é que esse ser e esse penso não coincidem uma vez que o pensamento que Lacan ressalta não é do consciente de Descartes, mas o inconsciente de Freud. Esse Eu penso de Descartes acredita que é senhor e comandante de seus pensamentos, que correspondem à realidade externa.  Esse autor das próprias idéias para Lacan é o falso ser. Logo o sujeito de Descartes não é o mesmo de Lacan (Fink, 1998)

Para a psicanálise o sujeito é o do pensamento também, porém do inconsciente e não do consciente de Descarte.  Freud (apud Quinet,2000), de acordo com Quinet (2000), se deu conta que o inconsciente é feito de pensamento (linguagem). Não é o sujeito da desrazão, mas de uma outra ordem e lógica própria, que pode ser apreendida pelo método psicanalítico.  Ela se foca na dúvida do discurso, posto que onde existe a hesitação é ai que se trata do pensamento inconsciente, se revelando como ausente, que surge o sujeito. Logo a duvida marca a presença de uma formação do inconsciente no lugar na resistência. Ou seja, lá onde falta alguma coisa que se encontra o sujeito.

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia. (Carlos Drummond Andrade)

Referências:

FINK, B. O sujeito lacaniano: entre a linguagem e o gozo.  Tradução M. L S. Câmara.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

FREIRE, A. B, FERNANDES, F. L. F. & SOUZA, N. S. A ciência e a verdade um comentário. Rio de Janeiros: Revinter, 1996

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

TTP I (aula 2)


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÀ

CENTRO DE HUMANIDADES

CURSO DE PSICOLOGIA

DISCIPLINA: TTP I

PROFESSORA: CAMILA GUIMARÃES

 

 

                                                                             

 

NOTA DE AULA

 

“Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.

Sinto que sou muito mais completa quando não entendo”

(Clarice Lispector)

 

 

          A psicanálise em Freud queria provar que era ciência na lógica cientifica do seu tempo, se estruturando nisso. Mas a grande questão é que o projeto de Freud falha. Posto que Freud trabalhava com tudo que a ciência não se debruçava. Diferença no ponto prático e teórico do que se fala. Ou seja, Freud falava de um outro lugar, no momento que apresentou o sujeito barrado, dividido e desejante.

 

·    Linguagem: Impossibilidade ≠ impotência

                    Fala

                    Inconsistente

                    Objeto a -> inexistência

 

·    Dúvida = Clivagem do sujeito.

          A psicanálise trabalha com a castração, ou seja, não é só simbólico e real também. Propõe um outro lugar discursivo o do analista que causa o desejo.

·    Sujeito : o que fala no humano.

·    A intervenção não visa a cura na psicanalise.

 

Referências:

 

ALBERTI, S; FIGUEIREDO, Ana Cristina. Psicanálise e saúde mental um aposta. Rio de Janeiro: Comapnhia de Freud, 2006.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

CLINICA PSICOSSOMÁTICA (aula I)


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE
CENTRO DE HUMANIDADES – CH
CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA CLINICA PSICOSSOMÁTICA
PROFESSORA CAMILA GUIMARÃES

 

NOTA DE AULA:

 
Matosinho, 8-11-1930

Paizinho,

Não te apoquentes com minha má saúde crónica. Estou a ver que pode viver só com pele e o ossos, que é já só o que tenho. Agora é o que foi sempre: o fígado, a barriga e os nervos. Não como nada, não durmo quase nada. Tenho dias que mal posso engolir uma chávena de leite, porque tudo me faz diarreias e dores de barriga. Estas tripas é que hão de acabar comigo, já há muito que eu o sei.

Não vou a Lisboa , como tencionava ir, por causa do estado que ando, não é estado de uma pessoa sair de casa, a não ser para o hospital ou cemitério, que ainda era melhor.

O meu livro creio que é desta que aparece, lá pra o natal. Ninguém fala de mim nem é preciso, tomara eu que me deixem em paz, está descansando: nenhuma delas vale o que eu valho, é esta a consolação que me resta. Se eu tivesse saúde e dinheiro e andasse, como elas andam, a aparecer em toda a parte e a receber em suas casas toda a gente influente nos jornais, já falavam de mim porque isto é assim: que não aparece, esquece. Obrigada pelas sedas, que são realmente lindas. Dá sempre notícias à tua filha, que te quer de todo coração.


Bela.

 

REFERÊNCIAS:

ESPANCA, Florbela. Cartas(1923-1930). Lisboa: Dom Quixote, 1986.