PROFESSORA: CAMILA GUIMARÃES
Nota de aula: clínica psicanalítica com adolescentes.
Considerações
acerca da adolescência:
Tradicionalmente a adolescência é vista como as transformações
psicológicas derivadas da puberdade – do latim pubertas, significa “idade viril”. Rompendo com essa visão Anna
Freud (2006) caracterizou a adolescência como um período de conflitos internos
e desequilíbrios psíquicos, que acompanham a maturação sexual da puberdade,
onde ocorre uma intensificação das pulsões, além de acompanhar diversas
modificações do corpo e das suas representações.
Dolto (1989) define puberdade como sendo as pulsões nos quais os
efeitos são sentidos nos genitais pelos rapazes e nas moças causa perturbações
vagas que vem ambos suscita a masturbação. Nesse momento são criadas fantasias
de encontros, porém ao contrario do período de latência, imaginá-las não mais
dar conta das fantasias, uma vez que entra em jogo a região genital, na busca
pelo outro.
Na
puberdade segundo Freud (2002) ainda sobre a diferença, aqui ocorre a real
diferenciação entre os caracteres masculinos e femininos. O garoto continua na
valorização narcísica exacerbada do pênis. Já a garota faz um investimento
narcísico por todo seu corpo, como pela cintura, seios, rosto, pernas, nádegas,
etc. Ocorrendo assim um deslocamento da excitabilidade do clitóris para a
vagina, assim a mulher na puberdade muda sua zona erógena dominante já o homem
conserva a sua.
Segundo Alberti (1996) a puberdade trás uma regulação da
vida sexual do sujeito centralizada nos genitais, devido o complexos de Édipo é
normalizada, pela inscrição de uma lei fundamental. O adolescente se depara com
o real do sexo, para a impossibilidade da completude da relação sexual. Na
psicanálise não existe uma estrutura clínica do adolescente, como todos os
seres tem suas estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão).
Ruffino
(1996) defende que o sujeito se encontra em crise quando não encontra o lugar
do seu gozo, já o adolescente de modo generalizado se encontra nessa
situação. Na clinica psicanalítica se
pensa a adolescência não como uma etapa simplesmente da evolução humana, mas
como uma operação psíquica e como tal visa um efeito no sujeito.
Dolto
(1989) em sua experiência clinica com adolescente diz que esse é sempre
polieuta, ou seja, ele precisa queimar aquilo que adora. Logo a via de trabalho
com adolescentes deve ser de permitir um lugar para que esse seja sujeito da
fala, aonde poderá manter distantes as suas pulsões, ao invés de cometer suas
atuações.
Perdoa-me por me traíres:
Nelson
Rodrigues, um grande escritor brasileiro, escreveu uma peça intitulada Perdoa-me por me traíres, que é
classificada como uma tragédia carioca, que retrata a história de uma
adolescente de dezesseis anos de classe média.
Glorinha era criada dês de criança pelo Tio Raul, irmão de seu pai, e
por sua esposa Tia Odete, porém essa era uma louca. A moça acreditava que sua
mãe tinha se suicidado, com a morte de sua mãe seu pai enlouquecera e passara a
viver em uma casa de repouso. Sua melhor
amiga era Nair, a convida para cabular a aula para ganhar dinheiro em um bordel
de Madame Luba.
Recortes:
“Nair-
Que máscara é essa?
Glorinha-
Por quer Máscara?
Nair-
Máscara sim senhora! (…) E aquela farra que nós fizemos, nós duas.
Glorinha-
Sei lá de Farra!
Nair-
No carnaval, esse que passou! Madame, fomos com uma turma ao apartamento de um
cara. E lá, sabe como é: bebemos, pintamos o caneco. A Glorinha estava com uma
fantasia sem alça em cima da pele! Veio um engraçadinho e , pela costas, te
puxou o fecho ecler até embaixo. Ficou pelada, Madame.
Glorinha-
Eu estava de pileque Madame! Tanto que
nem me lembrava. (…) Olha até agora não passei do beijo.” (RODRIGUES,
2003,p.786)
“As duas modalidades de eletrização que
podemos observar nos corpos correspondem às duas espécies de carga elétrica
encontradas no átomo. (mudando de tom, num apelo soluçante) Não se mexa: fique
assim!”(RODRIGUES,2003.p.789)
“
Finalmente, o DR. Jubileu cai de joelhos, porque alcança o máximo da tensão.
Assim de joelhos, mergulha o rosto nas duas mãos e tem um soluço interminável,
grosso como um mugido.” (RODRIGUES,2003.p799).
“Tio Raul – Tu
me odeias?
Glorinha – Não
Tio Raul – Não,
odeias o assassino da tua mãe?
Glorinha – Não.
Tio Raul –
Mentirosa.
Glorinha – Pois
odeio, pronto odeio.” (RODRIGUES,2003.p.819)
Referências:
ALBERTI, Sonia. Esse sujeito adolescente. Rio de
janeiro: Relume Dumará, 1996.
CORRÊA, Ana Izabel(org). Mais tarde… é agora! Ensaio sobre a
adolescência. Salvador: ágalma,1996.
DOLTO, Françoise. Dialogando sobre crianças e adolescentes.
Tradução Maria N. Brandão Benetti.Campinas: Papirus,1989.
FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa. Porto Alegre: Civilização Brasileira, 2006
FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.
Tradução de Paulo Dias Corréa. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
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