UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO CEARÀ
CENTRO
DE HUMANIDADESCURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: TTP I
PROFESSORA: CAMILA GUIMARÃES
NOTA
DE AULA
“Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter
fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo”
(Clarice Lispector)
O
sujeito lacaniano que Fink (1998) retorna é o do ne na língua francesa, da expressão ne pas. Isso que dizer uma hesitação, uma ambigüidade, um não na
declaração. Esse não dizer é o sujeito
inconsciente que se contrapõe ao consciente do Eu. Assim o sujeito é dividido,
barrado, desejante. Barrado pela linguagem, alienado dentro do Outro.
Esse
sujeito inconsciente é transitório não emerge sempre no discurso. “Esse sujeito
não tem outra existência além de um furo no discurso.”(p.63) Essa menção do
sujeito enquanto furo é a perspectiva freudiana, que é esse intruso no discurso
pela emergência do inconsciente. O intruso é o sujeito, como ele aponta e logo
em seguida desvanece; não tem um substrato, um ser no sujeito.
De
acordo com Quinet (2000), Descartes, ao se indagar quem eu sou, teoriza o
conceito de sujeito pela primeira vez na história das idéias. O que é verdade
para Descartes, é o que pode ser concebido de forma clara unicamente pela
razão. E foi a partir desses
pressupostos que se deu inicio da ciência moderna. O sujeito cartesiano
não é o sujeito da psicanálise, mas o sujeito da ciência. Porém a psicanálise
deve a Descartes sua origem posto que ela é fruto da modernidade
Descartes
na elaboração do seu sujeito, descarta os sentidos e o próprio corpo por vê-los
como enganadores. Dessa forma: “O que vejo, o que ouço, apalpo ou sinto não me
dizem o que eu sou; meu corpo tão pouco me define.”(Quinet,2000. P.11) Assim,
em tudo o filosofo duvida de todas as existências, formulando um Deus perverso
cuja ação não é outra senão a de enganar o sujeito. Então o único ponto
de certeza seria o pensamento, uma vez que era a única coisa que não poderia
ser descartada do sujeito. Logo se não penso não existiria. Logo o sujeito de
Descarte considera verdadeiro tudo aquilo que a razão formula de forma clara e
distinta.
Na sua
colocação que penso logo existo,
assegura esse ser do sujeito através de Deus. No caso o sujeito de Descartes
liga o pensamento ao Eu. A visão de
Lacan é que esse ser e esse penso não coincidem uma vez que o
pensamento que Lacan ressalta não é do consciente de Descartes, mas o
inconsciente de Freud. Esse Eu penso
de Descartes acredita que é senhor e comandante de seus pensamentos, que
correspondem à realidade externa. Esse
autor das próprias idéias para Lacan é o falso ser. Logo o sujeito de Descartes
não é o mesmo de Lacan (Fink, 1998)
Para a
psicanálise o sujeito é o do pensamento também, porém do inconsciente e não do
consciente de Descarte. Freud (apud
Quinet,2000), de acordo com Quinet (2000), se deu conta que o inconsciente é
feito de pensamento (linguagem). Não é o sujeito da desrazão, mas de uma outra
ordem e lógica própria, que pode ser apreendida pelo método psicanalítico. Ela se foca na dúvida do discurso, posto que
onde existe a hesitação é ai que se trata do pensamento inconsciente, se
revelando como ausente, que surge o sujeito. Logo a duvida marca a presença de
uma formação do inconsciente no lugar na resistência. Ou seja, lá onde falta
alguma coisa que se encontra o sujeito.
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia. (Carlos Drummond Andrade)
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia. (Carlos Drummond Andrade)
Referências:
FINK, B. O sujeito lacaniano: entre a linguagem e o
gozo. Tradução M. L S. Câmara. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
FREIRE, A. B, FERNANDES, F.
L. F. & SOUZA, N. S. A ciência e a
verdade um comentário. Rio de Janeiros: Revinter, 1996
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