UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE
CIÊNCIAS HUMANASCURSO: PSICOLOGIA
DISCIPLINA: CLINICA PSICOSSOMÁTICA
Nota de aula: Beleza revelada.
(século XVI)
No século XVI, com o renascimento, encontramos uma
nova inscrição do corpo, uma forma diferente de representar e significar a
presença carnal. Essa carne que ganha
maior expressividade nas pinturas ganhando um realismo corporal, cores,
arredondamentos, profundidade, espessura. O inicio da noção de beleza construída
na modernidade.
No cotidiano temos a grande primazia das feições
altas, ou seja, do rosto, nesse jogo do visível e invisível. Onde o baixo é
coberto e o alto descoberto.
No século XVI os pintores começavam a pintar
anônimos, retrato de mulheres sem nomes nas telas, escolhidas não pelo status
social, porém por sua beleza impar.
Nesse momento o corpo feminino ganha uma presença
carnal, volume e textura. Há ainda uma dificuldade dos autores desse período
criarem um discurso que descreva a beleza, justamente por ela ser algo
perfeito, ideal, inatingível a sua essência.
A beleza é algo social, aonde existe toda uma norma
que comanda as aparências. Dessas normas de aparência está o que pode ser
descoberto e o que deve ser coberto, do triunfo e destaque ao que se revela,
deixando o coberto para o obscuro e misterioso. Assim o descoberto são as
regiões que se devem honrar, as partes superiores do corpo. Atendo-se apenas ao
que se ver, ou seja, o alto. “Que necessita de se preocupar com as pernas já
que não é coisa que precise mostrar?”(VIGARELLO ,2006.p.17)
Os vestidos do século XVI são ajustados apenas na
parte superior, marcando a cintura e sendo levemente decotados, já as partes
inferiores têm grandes volumes de saias.
O céu cósmico se iguala ao céu corporal, por isso se valoriza o
alto.
A mulher bela é simétrica e leve, com a magreza do
ventre. Os braços e mãos devem ser graciosos, longos, leves e brancos.
Objeto primordial da beleza no século VXI: rosto e
mãos.
A beleza física no século XVI é evocar a fisionomia
ao rosto. Onde a beleza é própria da mulher, remetendo ao ideal, bom e divina.
Já no homem não temos o belo, mas a força, algo de
terrível. Esse não cuida da tez, ele trabalha. A mulher que é bela tem de se
cuidar pra manter sua perfeição. Cabendo a mulher acalentar seu homem dando
vida a ele, com sua beleza.
As qualidades dos temperamentos eram diferentes
entre os sexos: homem quente e seco, mulher úmida e fria.
No século XVI se ultrapassa o paradigma da
fragilidade e moleza da mulher, para transformar essa fraqueza em beleza e ternura.
Logo, a beleza feminina é sempre humilde, passiva e submissa. Condena-se o riso
da mulher, essa tem de ter gestos contidos e leves, mostrando modéstia,
humildade e castidade.
Trechos
ilustrativos:
“Uma
jovem tão tímida, de espírito tão sossegado e calmo, que corava de seus
próprios anseios! E a despeito da natureza, do país, da idade, do crédito, de
tudo, apaixonar-se do que de olhar, tão-só, a apavorava!” (SHAKESPEARE, 2010,p.
10)
“Otelo:
- Ela me amou à vista dos perigos por que passei, e muito amor lhe tive, por se
ter revelado compassiva.” (SHAKESPEARE, 2010,p.11)
“Desdêmona:
- A vida e a educação vos devo, educação e vida que me ensinam a saber
respeitar-vos. Sois o dono do meu dever, sendo eu, pois, vossa filha. Mas
também aqui vejo meu marido; e quanto minha mãe vos foi submissa,
preferindo-vos mesmo aos próprios pais, tanto agora pretendo revelar-me em
relação ao Mouro, a quem pertenço.”(SHAKESPEARE, 2010,p.11)
“EMÍLIA
- E se for bela e tonta?
IAGO
- Mulher tonta não há, sendo bonita, pois sabe arranjar filho e ser catita A
que bela foi sempre, não vaidosa, e, podendo falar, não foi verbosa; a que,
tendo ouro à larga, não se enfeita, e, coibindo-se, diz: numa outra feita; a
que, ofendida e a ponto de vingar-se, sabe conter-se e a fúria deixa alar-se; a
que não fosse néscia que trocasse salmão por bacalhau com alegre face; a que
pensasse e não dissesse nada e aos chichisbéus fugisse recatada; tal mulher, se
existisse, claro seja...” (SHAKESPEARE, 2010,p. 18)
“Beatriz-
Mais uma aliança unindo cada dois, como em todo o mundo, menos eu, e minha pele
está queimada do sol. Não sou lindamente pálida, tenho mais é de sentar-me a um
canto e gritar, implorando por um marido, qualquer um.” (SHAKESPEARE,
2002. p. 48)
Referência:
SHAKESPEARE,
William. Muito barulho por nada. Tradução
de Beatriz Viégas-Faria.Porto Alegre: L&PM, 2002.
SHAKESPEARE,
William. Otelo: O mouro de Veneza. Disponível em:
<www.mundocultural.com.br/analise/otelo_shake.pdf>. Acesso em: 12 dez.
2010.
VIGARELLO,
Georges. História da Beleza: o corpo
e a arte de se embelezar do renascimento aos dias de hoje. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário