quarta-feira, 2 de outubro de 2013

TTP I (clínica com adolescentes)


PROFESSORA: CAMILA GUIMARÃES

 
Nota de aula: clínica psicanalítica com adolescentes.

Considerações acerca da adolescência:

 

Tradicionalmente a adolescência é vista como as transformações psicológicas derivadas da puberdade – do latim pubertas, significa “idade viril”. Rompendo com essa visão Anna Freud (2006) caracterizou a adolescência como um período de conflitos internos e desequilíbrios psíquicos, que acompanham a maturação sexual da puberdade, onde ocorre uma intensificação das pulsões, além de acompanhar diversas modificações do corpo e das suas representações.

Dolto (1989) define puberdade como sendo as pulsões nos quais os efeitos são sentidos nos genitais pelos rapazes e nas moças causa perturbações vagas que vem ambos suscita a masturbação. Nesse momento são criadas fantasias de encontros, porém ao contrario do período de latência, imaginá-las não mais dar conta das fantasias, uma vez que entra em jogo a região genital, na busca pelo outro.

Na puberdade segundo Freud (2002) ainda sobre a diferença, aqui ocorre a real diferenciação entre os caracteres masculinos e femininos. O garoto continua na valorização narcísica exacerbada do pênis. Já a garota faz um investimento narcísico por todo seu corpo, como pela cintura, seios, rosto, pernas, nádegas, etc. Ocorrendo assim um deslocamento da excitabilidade do clitóris para a vagina, assim a mulher na puberdade muda sua zona erógena dominante já o homem conserva a sua. 

Segundo Alberti (1996) a puberdade trás uma regulação da vida sexual do sujeito centralizada nos genitais, devido o complexos de Édipo é normalizada, pela inscrição de uma lei fundamental. O adolescente se depara com o real do sexo, para a impossibilidade da completude da relação sexual. Na psicanálise não existe uma estrutura clínica do adolescente, como todos os seres tem suas estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão).

Ruffino (1996) defende que o sujeito se encontra em crise quando não encontra o lugar do seu gozo, já o adolescente de modo generalizado se encontra nessa situação.  Na clinica psicanalítica se pensa a adolescência não como uma etapa simplesmente da evolução humana, mas como uma operação psíquica e como tal visa um efeito no sujeito.

Dolto (1989) em sua experiência clinica com adolescente diz que esse é sempre polieuta, ou seja, ele precisa queimar aquilo que adora. Logo a via de trabalho com adolescentes deve ser de permitir um lugar para que esse seja sujeito da fala, aonde poderá manter distantes as suas pulsões, ao invés de cometer suas atuações. 

Perdoa-me por me traíres:

Nelson Rodrigues, um grande escritor brasileiro, escreveu uma peça intitulada Perdoa-me por me traíres, que é classificada como uma tragédia carioca, que retrata a história de uma adolescente de dezesseis anos de classe média.  Glorinha era criada dês de criança pelo Tio Raul, irmão de seu pai, e por sua esposa Tia Odete, porém essa era uma louca. A moça acreditava que sua mãe tinha se suicidado, com a morte de sua mãe seu pai enlouquecera e passara a viver em uma casa de repouso.  Sua melhor amiga era Nair, a convida para cabular a aula para ganhar dinheiro em um bordel de Madame Luba.

Recortes:

“Nair- Que máscara é essa?

Glorinha- Por quer Máscara?

Nair- Máscara sim senhora! (…) E aquela farra que nós fizemos, nós duas.

Glorinha- Sei lá de Farra!

Nair- No carnaval, esse que passou! Madame, fomos com uma turma ao apartamento de um cara. E lá, sabe como é: bebemos, pintamos o caneco. A Glorinha estava com uma fantasia sem alça em cima da pele! Veio um engraçadinho e , pela costas, te puxou o fecho ecler até embaixo. Ficou pelada, Madame.

Glorinha- Eu estava de pileque  Madame! Tanto que nem me lembrava. (…) Olha até agora não passei do beijo.” (RODRIGUES, 2003,p.786)

 

 “As duas modalidades de eletrização que podemos observar nos corpos correspondem às duas espécies de carga elétrica encontradas no átomo. (mudando de tom, num apelo soluçante) Não se mexa: fique assim!”(RODRIGUES,2003.p.789) 

 

“ Finalmente, o DR. Jubileu cai de joelhos, porque alcança o máximo da tensão. Assim de joelhos, mergulha o rosto nas duas mãos e tem um soluço interminável, grosso como um mugido.” (RODRIGUES,2003.p799).

 

“Tio Raul – Tu me odeias?

Glorinha – Não

Tio Raul – Não, odeias o assassino da tua mãe?

Glorinha – Não.

Tio Raul – Mentirosa.

Glorinha – Pois odeio, pronto odeio.” (RODRIGUES,2003.p.819)

 

Referências:

 

ALBERTI, Sonia. Esse sujeito adolescente. Rio de janeiro: Relume Dumará, 1996.

CORRÊA, Ana Izabel(org). Mais tarde… é agora! Ensaio sobre a adolescência. Salvador: ágalma,1996.

DOLTO, Françoise. Dialogando sobre crianças e adolescentes. Tradução Maria N. Brandão Benetti.Campinas: Papirus,1989.

FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa. Porto Alegre: Civilização Brasileira, 2006

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Tradução de Paulo Dias Corréa. Rio de Janeiro: Imago, 2002.

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