Nota de Aula:
Mart., 8-11-1930
Paizinho,
Não te apoquentes com a minha má saúde crónica. Estou a ver que se pode viver só com a pele e osso, que é já só o que tenho. Agora é o que foi sempre: o fígado, a barriga e os nervos. Não como nada, não durmo quase nada. Tenho dias que mal posso engolir uma chávenas de leite, porque tudo me faz diarreias e dores d ebarriga. Estas tripas é que hão-de acabar comigo, já há muito que eu o sei.
Diz então o que houver sobre o maldito do Dr. maluco, quando for tempo, a ver o que se poderá fazer por cá. Não vou a Lisboa, como tencionava ir, por causa do estado em que ando, não é estado de uma pessoa sair de casa, a não ser para o hospital ou para o cemitério, que ainda era melhor.
O meu livro creio que é desta que aparece, lá para o natal. Ninguem fala de mim é preciso, tomara eu que me deixem em paz, está descansado: nenhuma delas vale o que eu valho, é esta a consolação que me resta. Se eu tivesse saúde e dinehiro e andasse, como elas andam, a aparecer em toda a parte e a receber em suas casas toda a gente de influência nos jornais, já falavam de mim porque isto é assim: quem não aparece, esquece. Obrigada pelas sedas, que são realmente lindas. A henriqueta gostou das cebolas? Dá sempre notícias À tua filha, que te quer te todo o coração.
Bela.
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