terça-feira, 3 de setembro de 2013

CLINICA PSICOSSOMÁTICA ( Aula III- Beleza Revelada)


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO: PSICOLOGIA
DISCIPLINA: CLINICA PSICOSSOMÁTICA

 

 

Nota de aula: Beleza revelada.

(século XVI)

 

No século XVI, com o renascimento, encontramos uma nova inscrição do corpo, uma forma diferente de representar e significar a presença carnal.  Essa carne que ganha maior expressividade nas pinturas ganhando um realismo corporal, cores, arredondamentos, profundidade, espessura. O inicio da noção de beleza construída na modernidade.

No cotidiano temos a grande primazia das feições altas, ou seja, do rosto, nesse jogo do visível e invisível. Onde o baixo é coberto e o alto descoberto.

No século XVI os pintores começavam a pintar anônimos, retrato de mulheres sem nomes nas telas, escolhidas não pelo status social, porém por sua beleza impar. 

Nesse momento o corpo feminino ganha uma presença carnal, volume e textura. Há ainda uma dificuldade dos autores desse período criarem um discurso que descreva a beleza, justamente por ela ser algo perfeito, ideal, inatingível a sua essência.

A beleza é algo social, aonde existe toda uma norma que comanda as aparências. Dessas normas de aparência está o que pode ser descoberto e o que deve ser coberto, do triunfo e destaque ao que se revela, deixando o coberto para o obscuro e misterioso. Assim o descoberto são as regiões que se devem honrar, as partes superiores do corpo. Atendo-se apenas ao que se ver, ou seja, o alto. “Que necessita de se preocupar com as pernas já que não é coisa que precise mostrar?”(VIGARELLO ,2006.p.17)

Os vestidos do século XVI são ajustados apenas na parte superior, marcando a cintura e sendo levemente decotados, já as partes inferiores têm grandes volumes de saias.   O céu cósmico se iguala ao céu corporal, por isso se valoriza o alto. 

A mulher bela é simétrica e leve, com a magreza do ventre. Os braços e mãos devem ser graciosos, longos, leves e brancos.

Objeto primordial da beleza no século VXI: rosto e mãos.

A beleza física no século XVI é evocar a fisionomia ao rosto. Onde a beleza é própria da mulher, remetendo ao ideal, bom e divina.

Já no homem não temos o belo, mas a força, algo de terrível. Esse não cuida da tez, ele trabalha. A mulher que é bela tem de se cuidar pra manter sua perfeição. Cabendo a mulher acalentar seu homem dando vida a ele, com sua beleza.

As qualidades dos temperamentos eram diferentes entre os sexos: homem quente e seco, mulher úmida e fria.

No século XVI se ultrapassa o paradigma da fragilidade e moleza da mulher, para transformar essa fraqueza em beleza e ternura. Logo, a beleza feminina é sempre humilde, passiva e submissa. Condena-se o riso da mulher, essa tem de ter gestos contidos e leves, mostrando modéstia, humildade e castidade.

 

Trechos ilustrativos:
“Uma jovem tão tímida, de espírito tão sossegado e calmo, que corava de seus próprios anseios! E a despeito da natureza, do país, da idade, do crédito, de tudo, apaixonar-se do que de olhar, tão-só, a apavorava!” (SHAKESPEARE, 2010,p. 10)
 
“Otelo: - Ela me amou à vista dos perigos por que passei, e muito amor lhe tive, por se ter revelado compassiva.” (SHAKESPEARE, 2010,p.11)
 
“Desdêmona: - A vida e a educação vos devo, educação e vida que me ensinam a saber respeitar-vos. Sois o dono do meu dever, sendo eu, pois, vossa filha. Mas também aqui vejo meu marido; e quanto minha mãe vos foi submissa, preferindo-vos mesmo aos próprios pais, tanto agora pretendo revelar-me em relação ao Mouro, a quem pertenço.”(SHAKESPEARE, 2010,p.11)
“EMÍLIA - E se for bela e tonta?
IAGO - Mulher tonta não há, sendo bonita, pois sabe arranjar filho e ser catita A que bela foi sempre, não vaidosa, e, podendo falar, não foi verbosa; a que, tendo ouro à larga, não se enfeita, e, coibindo-se, diz: numa outra feita; a que, ofendida e a ponto de vingar-se, sabe conter-se e a fúria deixa alar-se; a que não fosse néscia que trocasse salmão por bacalhau com alegre face; a que pensasse e não dissesse nada e aos chichisbéus fugisse recatada; tal mulher, se existisse, claro seja...” (SHAKESPEARE, 2010,p. 18)
“Beatriz- Mais uma aliança unindo cada dois, como em todo o mundo, menos eu, e minha pele está queimada do sol. Não sou lindamente pálida, tenho mais é de sentar-me a um canto e gritar, implorando por um marido, qualquer um.” (SHAKESPEARE, 2002.      p. 48)
Referência:
SHAKESPEARE, William. Muito barulho por nada. Tradução de Beatriz Viégas-Faria.Porto Alegre: L&PM, 2002.
SHAKESPEARE, William. Otelo: O mouro de Veneza. Disponível em: <www.mundocultural.com.br/analise/otelo_shake.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2010.
VIGARELLO, Georges. História da Beleza: o corpo e a arte de se embelezar do renascimento aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
           

Nenhum comentário:

Postar um comentário