segunda-feira, 19 de agosto de 2013

TTP I ( Aula III- A verdade no sujeito da ciência e da psicanálise)


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÀ
CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: TTP I
PROFESSORA: CAMILA GUIMARÃES

 

NOTA DE AULA

 

“Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo”
(Clarice Lispector)

 

O sujeito lacaniano que Fink (1998) retorna é o do ne na língua francesa, da expressão ne pas. Isso que dizer uma hesitação, uma ambigüidade, um não na declaração.  Esse não dizer é o sujeito inconsciente que se contrapõe ao consciente do Eu. Assim o sujeito é dividido, barrado, desejante. Barrado pela linguagem, alienado dentro do Outro.

Esse sujeito inconsciente é transitório não emerge sempre no discurso. “Esse sujeito não tem outra existência além de um furo no discurso.”(p.63) Essa menção do sujeito enquanto furo é a perspectiva freudiana, que é esse intruso no discurso pela emergência do inconsciente. O intruso é o sujeito, como ele aponta e logo em seguida desvanece; não tem um substrato, um ser no sujeito.

De acordo com Quinet (2000), Descartes, ao se indagar quem eu sou, teoriza o conceito de sujeito pela primeira vez na história das idéias. O que é verdade para Descartes, é o que pode ser concebido de forma clara unicamente pela razão. E foi a partir desses  pressupostos que se deu inicio da ciência moderna. O sujeito cartesiano não é o sujeito da psicanálise, mas o sujeito da ciência. Porém a psicanálise deve a Descartes sua origem posto que ela é fruto da modernidade

Descartes na elaboração do seu sujeito, descarta os sentidos e o próprio corpo por vê-los como enganadores. Dessa forma: “O que vejo, o que ouço, apalpo ou sinto não me dizem o que eu sou; meu corpo tão pouco me define.”(Quinet,2000. P.11) Assim, em tudo o filosofo duvida de todas as existências, formulando um Deus  perverso  cuja ação não é outra senão a de enganar o sujeito. Então o único ponto de certeza seria o pensamento, uma vez que era a única coisa que não poderia ser descartada do sujeito. Logo se não penso não existiria. Logo o sujeito de Descarte considera verdadeiro tudo aquilo que a razão formula de forma clara e distinta.

Na sua colocação que penso logo existo, assegura esse ser do sujeito através de Deus. No caso o sujeito de Descartes liga o pensamento ao Eu.  A visão de Lacan é que esse ser e esse penso não coincidem uma vez que o pensamento que Lacan ressalta não é do consciente de Descartes, mas o inconsciente de Freud. Esse Eu penso de Descartes acredita que é senhor e comandante de seus pensamentos, que correspondem à realidade externa.  Esse autor das próprias idéias para Lacan é o falso ser. Logo o sujeito de Descartes não é o mesmo de Lacan (Fink, 1998)

Para a psicanálise o sujeito é o do pensamento também, porém do inconsciente e não do consciente de Descarte.  Freud (apud Quinet,2000), de acordo com Quinet (2000), se deu conta que o inconsciente é feito de pensamento (linguagem). Não é o sujeito da desrazão, mas de uma outra ordem e lógica própria, que pode ser apreendida pelo método psicanalítico.  Ela se foca na dúvida do discurso, posto que onde existe a hesitação é ai que se trata do pensamento inconsciente, se revelando como ausente, que surge o sujeito. Logo a duvida marca a presença de uma formação do inconsciente no lugar na resistência. Ou seja, lá onde falta alguma coisa que se encontra o sujeito.

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia. (Carlos Drummond Andrade)

Referências:

FINK, B. O sujeito lacaniano: entre a linguagem e o gozo.  Tradução M. L S. Câmara.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

FREIRE, A. B, FERNANDES, F. L. F. & SOUZA, N. S. A ciência e a verdade um comentário. Rio de Janeiros: Revinter, 1996

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